Rússia promete reconhecer eleições organizadas pelos separatistas no Leste da Ucrânia

Governo ucraniano acusa Moscovo de "minar" o processo de paz ao apoiar votação do próximo domingo.

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Tanque rebelde estacionado no centro de Donetsk Maxim Zmeyev/Reuters

A Rússia reconhecerá o resultado das eleições que os separatistas ucranianos planeiam organizar nas regiões que controlam, no Leste do país, abrindo um novo foco de tensão com Kiev, que acusa Moscovo de “minar” as esperanças de acalmia abertas pelo cessar-fogo acordado em Setembro.

A tomada de posição de Moscovo surge dois dias depois das legislativas na Ucrânia, que carimbaram o domínio dos partidos pró-europeus, mas nas quais não votaram cerca de três milhões de ucranianos que vivem nas zonas controladas pelos rebeldes, em Donetsk e Lugansk. Os líderes das duas autoproclamadas repúblicas populares planearam uma votação alternativa para domingo, onde pretendem escolher os seus próprios parlamentos e presidentes.

“Esperamos que as eleições decorram como o previsto e iremos, está claro, reconhecer os resultados”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, numa entrevista ao jornal Izvestia, durante a qual disse esperar que “ninguém do exterior tente perturbar” a votação.

Moscovo não reconheceu formalmente a votação os ditos referendos à independência organizados pelas duas repúblicas em Maio, um mês depois de grupos separatistas terem pegado em armas contra Kiev. No entanto, Lavrov afirma que as eleições de dia 2 “são muito importantes para legitimar as autoridades” locais. “São um dos pontos mais importantes dos acordos de Minsk”, afirma, referindo-se ao entendimento selado na capital da Bielorrússia para a resolução do conflito, incluindo o cessar-fogo actualmente em vigor.

O Governo ucraniano tem, no entanto, outra opinião. As declarações de Lavrov “contradizem directamente os acordos de Minsk”, disse à AFP um alto responsável da diplomacia de Kiev, acusando Moscovo de “minar o processo de paz, ao mesmo tempo que enfraquece a confiança na Rússia enquanto parceiro internacional seguro”.

O acordo de 5 de Setembro prevê uma ampla autonomia para Donetsk e Lugansk, no quadro de um plano de descentralização do Estado ucraniano, e a realização de eleições locais para escolher novos líderes. Kiev aprovou ainda em Setembro uma lei que concede um novo estatuto à região e propôs a realização de eleições para os novos concelhos locais a 7 de Dezembro. Mas os rebeldes, que insistem na independência da região, recusaram e marcaram para o próximo domingo uma votação que Kiev não reconhece.

Na mesma entrevista, Lavrov diz que Moscovo reconhece o resultado das legislativas ucranianas, apesar das “numerosas violações” registadas durante a campanha eleitoral. “Estou convencido que teremos um interlocutor com quem falar no Parlamento e na chefia do Estado”, afirmou, explicando que o mais importante para a Rússia é evitar o reinício dos combates abertos entre o Exército e os rebeldes, numa altura em que se repetem confrontos em várias zonas do Leste.

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