Apesar do cepticismo, EUA vão analisar plano russo sobre arsenal químico sírio
Iniciativa de Lavrov foi bem acolhida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros sírio. ONU avança com proposta semelhante
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, propôs à Síria que entregue o seu arsenal de armas químicas a uma entidade de supervisão internacional que se encarregará da sua destruição, de forma a evitar um eventual ataque militar dos Estados Unidos.
“Fizemos chegar uma proposta ao ministro [dos Negócios Estrangeiros] Walid al-Moualem e esperamos uma resposta positiva muito em breve”, indicou Lavrov, no fim de um encontro com o governante sírio em Moscovo.
Segundo a agência de notícias russa RT.com e a Associated Press, a proposta de Lavrov prevê a “transferência do controlo” do arsenal químico do Exército sírio para as mãos de monitores internacionais e a sua “subsequente destruição”. A Rússia apelou ainda que a Síria ratifique a convenção internacional que proíbe a produção, armazenamento e uso de armas químicas.
Reagindo ao anúncio do Kremlin, um conselheiro do Presidente dos Estados Unidos disse à AFP que a Casa Branca ainda está a aguardar que os termos da proposta russa sejam esclarecidos pelos canais diplomáticos. Ben Rhodes manifestou a total abertura de Washington para discutir a ideia da entrega e destruição do arsenal químico sírio, mas avisou que não vai abrandar a sua pressão sobre o regime de Bashar al-Assad.
“Não sabemos se a Síria vai concordar, mas estamos preparados para começar a trabalhar imediatamente com Damasco para o estabelecimento de uma supervisão internacional que permita evitar o ataque ao país”, garantiu o ministro russo. Mas os americanos querem certificar-se que não se trata de uma manobra dilatória.
Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, confirmou que o Presidente Obama está disposto a analisar a proposta russa, mas também sublinhou que Administração norte-americana está céptica quanto à rapidez da resposta do ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, que acolheu positivamente a ideia de Lavrov.
Vários responsáveis norte-americanos insistiram na ideia de que é necessário, no entanto, manter a pressão sobre o regime de Assad e já na quarta-feira o Senado americano vai proceder à primeira votação para iniciar a discussão da proposta de ataques selectivos à Síria
Em Londres, o primeiro-ministro britânico David Cameron considerou “particularmente bem-vindo” o apelo feito pelos russos à Siria, considerando que se Damasco aceitar colocar o seu arsenal químico sobre controlo internacional isso “será um grande passo em frente”. Mas Cameron também sublinhou que tudo pode não passar de “uma manobra de diversão” para travar a retaliação dos EUA.
Em declarações à Reuters, o ministro sírio agradeceu o empenho de Moscovo na negociação de uma solução para a crise, sem, contudo, indicar qual seria a resposta de Damasco à proposta enunciada por Lavrov. “Em nome da República Árabe da Síria, agradeço a iniciativa da Rússia e manifesto a minha confiança na capacidade dos líderes russos para prevenir a agressão americana contra o nosso povo”, disse o governante.
Numa conferência de imprensa em Londres, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já tinha especulado que a intervenção contra o regime de Damasco que está a ser planeada pelos Estados Unidos poderia ser travada se o Presidente Bashar al-Assad “disponibilizasse as suas armas químicas à comunidade internacional já esta semana”. Mas Kerry acrescentou que “não há nenhuma indicação de que [Assad] aceite fazer isso” – e mais tarde a porta-voz do Departamento de Estado precisava que a sugestão avançada em resposta aos jornalistas era um “argumento retórico” e não uma proposta oficial e muito menos um ultimato dirigido ao Presidente sírio.
ONU também avança
Em Nova Iorque, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, defendeu a criação, na Síria, de zonas supervisionadas pela ONU onde as armas químicas seriam desmanteladas. Em declarações aos jornalistas, Ban disse que apresentará essa proposta ao Conselho de Segurança se os investigadores da organização confirmarem a utilização de armas proibidas na guerra que se trava há dois anos e meio na Síria. Isso, acrescentou, poderá ultrapassar a “embaraçosa paralisia” do Conselho quanto ao conflito.
Ban congratulou-se com a proposta russa e disse que a Síria deve aceitá-la pois haverá, nesse caso, “uma acção rápida” da comunidade internacional para assegurar que os arsenais de armas químicas serão destruídos. Claro, sublinhou o secretário-geral, que a Síria “tem que dar o seu acordo” a este plano.
As três propostas de resolução contra a Síria discutidas no Conselho de Segurança foram bloqueadas pela Rússia e a China, que têm poder de veto.