Rússia condena "ataque inaceitável" de Israel em território sírio

Moscovo e os aliados regionais de Assad condenam ataque realizado na noite de terça-feira. Israel não comenta acção, que terá visado uma coluna de veículos com armas e um centro de investigação militar.

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Israel terá atacado uma coluna de veículos que transportaria armas para o Hezbollah Baz Ratner/Reuters

A notícia de um ataque da aviação israelita na Síria já motivou a indignação das autoridades russas, que classificam a acção como "inaceitável". Em Israel, o Governo mantém o silêncio absoluto sobre esta acção que o Hezbollah, aliado de Damasco, diz ter exposto “as origens” da guerra na Síria.

"Se esta informação estiver correcta, está em causa um ataque sem qualquer tipo de provocação contra alvos no território de um país soberano, que viola de forma flagrante a Carta das Nações Unidas e que é inaceitável, sejam quais forem os motivos", lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, citado pela agência Reuters. No mesmo texto, a diplomacia moscovita diz estar a tentar esclarecer “esta situação até aos mínimos detalhes” e avisa que, a confirmar-se o ataque não provocado, vai condenar a actuação de Israel.

Mais de 24 horas depois do ataque, que terá acontecido na noite de terça-feira, não há ainda confirmação sobre o alvo visado pela aviação israelita. “Estou ao corrente das notícias pela comunicação social”, limitou-se a dizer o ministro das Finanças, Youval Steinitz, que é um dos membros do restrito gabinete de segurança do Governo israelita. “De uma maneira geral, Israel não desmente nem confirma este tipo de actividades militares”, acrescentou à rádio militar o deputado do Likud Tzahi Hanegbi, próximo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

Responsáveis da segurança regional, citados ontem pelas agências AFP e Reuters, adiantavam que os caças israelitas atacaram uma coluna de veículos que se dirigia para o Líbano, suspeita que Israel suspeitava transportar armas para o Hezbollah, milícia xiita que é considerada uma das principais ameaças ao país. Um responsável norte-americano adiantou, entretanto à AP que os veículos transportariam mísseis anti-aéreos SA-17, comprados pela Síria à Rússia.

Quarta-feira à noite, contudo, a televisão estatal da Síria noticiou que o ataque visou um centro de investigação militar em Jamraya, entre Damasco e a fronteira com o Líbano. O jornal israelita Ha’aretz diz ter informações de que os caças atingiram os dois alvos e a BBC refere que a unidade de Jamraya – que o regime descreve como dedicado “a elevar o nível de resistência e de autodefesa” do país – será o Centro de Estudos Científicos e Investigação, a organização responsável pelo desenvolvimento de armas químicos e biológicas. A instação, adianta o Ha’aretz fica a pouco mais de cinco quilómetros do palácio presidencial de Bashar al-Assad, nos arredores de Damasco.

O jornal New York Times adianta também que o Governo de Benjamin Netanyahu terá informado a Administração americana antes de lançar o ataque, que surgiu dias depois de Israel ter feito vários alertas sobre os riscos que a actual situação na Síria representa para a segurança nacional.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, que estão reunidos em Bruxelas, recusaram fazer comentários às notícias que chegam da Síria. “Enquanto não tivermos conhecimento directo ou informações seguras sobre o que está a ser noticiado, não farei comentários”, resumiu o chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle.

Menos contidos do que a Rússia, os aliados que Assad ainda mantém na região, condenaram a “agressão brutal” de Israel. “Não há dúvidas de que esta agressão condiz com a política do Ocidente e dos sionistas para passar para segundo plano o sucesso do povo e do Governo sírios a restaurar a estabilidade e a segurança do país”, reagiu o chefe da diplomacia iraniana, Ali Akbar Salehi. Exprimindo a sua “inteira solidariedade com a Síria”, o Hezbollah diz que o ataque confirma que na origem do conflito na Síria estão “objectivos criminosos” para “enfraquecer o papel central do país na resistência” contra Israel e “coroa um complot contra os povos árabes e muçulmanos”.

Apesar de ter já repudiado o regime de Assad, a Liga Árabe veio também já condenar a “flagrante agressão e a evidente violação” da soberania da Síria. 
 
 
 
 

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