Rússia acusa NATO de criar "ameaça externa imaginária" para sobreviver

Moscovo responde ao secretário-geral da Aliança Atlântica, que pediu um reforço dos gastos militares e voltou a exigir a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia.

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O secretário-geral da NATO afirma que 40.000 soldados russos estão "prontos a combater" ANDREY KRONBERG/AFP

Os alertas da NATO sobre a acumulação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia não passam de uma estratégia para garantir a sua própria sobrevivência, acusa o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Numa declaração proferida nesta quinta-feira na República Checa, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que Moscovo tem 40.000 soldados "preparados para combater, e não em exercícios".

"As constantes acusações do secretário-geral convencem-nos de que a Aliança está a tentar usar esta crise na Ucrânia para cerrar as suas fileiras contra uma ameaça externa imaginária, e para aumentar a procura pela Aliança no século XXI", lê-se num comunicado do ministério russo chefiado por Sergei Lavrov.

Depois de a chanceler alemã, Angela Merkel, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, terem comparado a estratégia do Presidente Vladimir Putin para anexar a Crimeia às tácticas usadas no século XIX (e das várias referências a um regresso aos tempos da Guerra Fria, no século XX), a Rússia surge agora a questionar a legitimidade da existência da NATO no século XXI – a fundação da Aliança Atlântica, em 1949, motivou a criação do Pacto de Varsóvia, que viria a ser desmembrado em 1991, com o colapso da União Soviética.

As críticas de Moscovo são uma resposta ao secretário-geral da NATO, que voltou a exigir nesta quinta-feira que a Rússia retire as suas tropas da fronteira com a Ucrânia, em declarações no final de uma reunião com o primeiro-ministro checo, Boshulav Sobotka, em Praga.

"Pela primeira vez desde que países como a República Checa conquistaram a liberdade, e desde o fim da Guerra Fria, vemos um Estado a tentar apoderar-se de parte do território de outro Estado à mão armada", afirmou Anders Fogh Rasmussen.

O líder da NATO – que vai ser substituído em Outubro pelo antigo primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg – acusou também a Rússia de "agitar as tensões étnicas" no Leste da Ucrânia. "Neste preciso momento, cerca de 40.000 soldados russos estão colocados ao longo das fronteiras da Ucrânia. Preparados para combater, e não em exercícios. Temos visto as imagens de satélite todos os dias. A Rússia está a agitar as tensões étnicas no Leste da Ucrânia e a provocar a desordem. E está a usar o seu poderio militar para ditar que a Ucrânia se transforme num Estado federal e neutral. Só a Ucrânia, como Estado soberano, pode tomar essa decisão. Mais ninguém", disse o secretário-geral da NATO.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo interpretou estas palavras como uma "confrontação" e acusou a NATO de não ter avançado "qualquer agenda construtiva" para a Ucrânia.

No início de Abril, a NATO suspendeu todas as linhas de cooperação militar com a Rússia, mas salientou que os canais políticos continuam abertos. No mesmo dia – numa reunião em que esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia –, os países-membros da Aliança Atlântica decidiram reforçar os seus meios nos países mais próximos da Rússia, como a Polónia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia.

Em causa está também o acordo de cooperação entre a NATO e a Rússia, assinado em 2002 em Roma, que travou a instalação de novas bases militares permanentes no centro e no Leste da Europa. Não há ainda indicações de que a Aliança esteja a preparar-se para criar novas bases – por enquanto, a aposta é no reforço dos seus meios no âmbito dos exercícios conjuntos com os países em causa.

No final do encontro desta quinta-feira com o primeiro-ministro checo, Anders Fogh Rasmussen deixou também um apelo ao reforço dos gastos militares dos países-membros da NATO: "Acima de tudo, temos de travar o declínio dos nossos orçamentos de Defesa, e começar a reinvestir na nossa segurança. Investir na Defesa tem um custo, mas podemos constatar que a insegurança tem um custo muito mais elevado."
 

   

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