Rússia acusa Alemanha de "manipulação grosseira", Schäuble nega comparações com Hitler

Minstro dos Negócios Estrangeiros russo diz que "referências pseudo-históricas feitas pelo ministro alemão são provocatórias".

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O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, diz que declarões do ministro alemão são "provocatórias" ALEXANDER NEMENOV/AFP

As comparações entre a anexação da Crimeia e o início da expansão comandada pela Alemanha nazi estão a tornar ainda mais tensas as relações entre Moscovo e Berlim. Depois de o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ter dito que o mundo já conhece os métodos russos desde a invasão nazi da região dos Sudetas, na antiga Checoslováquia, a Rússia vem agora exigir que o responsável "dê explicações" ao seu país por esta "manipulação grosseira de factos históricos".

"Consideramos que essas referências pseudo-históricas feitas pelo ministro alemão são provocatórias", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. Para além de uma provocação, segundo o responsável, as palavras de Wolfgang Schäuble reflectem uma "manipulação grosseira de factos históricos".

A Alemanha de Angela Merkel e a Rússia de Vladimir Putin estão ligadas por fortes laços económicos, mas as relações azedaram entre a crise na Ucrânia e a anexação da Crimeia – a chanceler passou gradualmente de uma das vozes mais cautelosas em relação à aplicação de sanções duras a Moscovo para a porta-voz dos líderes que exigem uma posição mais firme da União Europeia.

Na segunda-feira, durante uma conversa com estudantes alemães, o ministro das Finanças Wolfgang Schäuble deu mais um contributo para o arrefecimento das relações, com uma declaração controversa.

"Sabemos disso através da História. São métodos que foram utilizados por Hitler para anexar a região dos Sudetas", disse Schäuble, referindo-se aos argumentos avançados por Vladimir Putin para anexar a Crimeia e deixar no ar a ideia de que poderia agir noutras partes do território ucraniano, principalmente nas zonas leste e sudeste, de maioria russófona – de acordo com Moscovo, foi preciso fazer algo para proteger essa população das ameaças de grupos extremistas ucranianos.

A anexação da região dos Sudetas por Adolf Hitler, em 1938, foi sustentada num argumento semelhante – o de que era necessário proteger a população germânica da antiga Checoslováquia.

Também na segunda-feira, quando questionada numa conferência de imprensa sobre se a comparação feita por Schäuble é legítima, a chanceler alemã, Angela Merkel, distanciou-se e respondeu que "a anexação da Crimeia é um caso único", reafirmando que constitui uma violação das leis internacionais.

Na quinta-feira à noite, numa entrevista ao canal alemão ARD, o ministro das Finanças recusou-se a pedir desculpas, dizendo que nunca teve a intenção de comparar Adolf Hitler a Vladimir Putin. "Não sou assim tão estúpido ao ponto de comparar Hitler a quem quer que seja. Outros podem fazer isso, mas os políticos alemães não. Nós não fazemos essas comparações", afirmou Wolfgang Schäuble.

O ministro culpou os jornalistas que estiveram presentes na sua conversa com estudantes, na segunda-feira, de "tirarem uma frase do seu contexto" – depois da declaração sobre os métodos russos na Crimeia, Schäuble disse ter salientado que não estava a fazer comparações. O responsável criticou também a "excitação mediática insuportável", que "destrói toda a espontaneidade".

Mas o facto é que Moscovo não gostou do que ouviu e disse-o ao embaixador alemão, Ruediger von Fritsch, não sendo certo se o diplomata foi chamado propositadamente para este efeito. O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão disse que Ruediger von Fritsch – nomeado embaixador em Moscovo no mês passado – estava no edifício do ministério russo para apresentar as suas credenciais.

Rússia denuncia planos de ataques ucranianos
Nesta sexta-feira, os serviços secretos russos (FSB) anunciaram a detenção de 25 ucranianos por suspeitas de terem planeado ataques no Sul e centro do país. O FSB avançou mesmo pormenores sobre essas operações: ataques entre os dias 14 e 17 de Março nas regiões de Rostov, Volgogrado, Tver, Orel, Belgorod, Kalmikia e Tatarstão.

O canal estatal Rossiya mostrou imagens de vários jovens, um dos quais diz ser membro de um grupo ultranacionalista. Segundo as autoridades de Moscovo, estavam a recolher informações sobre o equipamento militar russo a mando dos serviços secretos ucranianos (SBU).

A notícia da detenção de 25 ucranianos chega horas depois de o SBU ter acusado os serviços secretos russos de envolvimento directo nas mortes de dezenas de pessoas durante os protestos contra o Presidente Viktor Ianukovich.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, desmentiu qualquer envolvimento dos seus serviços secretos na crise ucraniana, dizendo que essas acusações são "contrariadas por numerosas provas", e a direcção dos serviços secretos ucranianos afirma que as acusações de Moscovo "não fazem sentido".

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