Rohani diz querer construir "entendimento construtivo" com o mundo

Em discurso ao país, o novo Presidente diz que a sua eleição provou que os iranianos querem mudanças e uma aposta na moderação.

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Os iranianos celebraram nas ruas a eleição deste religioso moderado Yalda Moayeri/Reuters

O novo Presidente iraniano diz que a sua eleição – um resultado inesperado numa votação em que enfrentou apenas candidatos ultraconservadores – foi um voto a favor da mudança e da moderação. Num discurso ao país, Hassan Rohani repetiu que quer construir um “entendimento construtivo” com o mundo, mas sublinhou que o diálogo deve basear-se no respeito mútuo e no reconhecimento de “todos os direitos do Irão”.

“Os iranianos escolheram um novo caminho, disseram nestas eleições: ‘queremos mudança’”, disse Rohani, eleito a 14 de Junho com 50,7% dos votos, logo à primeira volta. Num contraste com as eleições de 2009, milhares de iranianos festejaram nas ruas a eleição de um líder religioso que, sem pertencer à ala reformista, criou expectativas de alguma abertura do regime e de desanuviamento nas relações externas.

Rohani sublinhou que “está comprometido pelo voto da maioria” a seguir “um caminho de moderação” e prometeu que o Governo que irá formar “não será partidário, nem devedor de nenhum partido ou tendência política”.

“Usaremos as personalidades mais competentes de todas as tendências, com a condição de que sejam moderadas”, assegurou, vincando bem as diferenças para o seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, um ultraconservador que dividiu o país e hostilizou o Ocidente, nomeadamente quando pôs em causa o Holocausto. Terminou o mandato repudiado por todos, até pelo Líder Supremo, o ayatollah Ali Khamanei, cuja autoridade ousou desafiar, deixando o país isolado e alvo de sanções que ajudam a explicar a grave crise económica que o Irão atravessa.

Grandes expectativas

A nível internacional, a eleição de Rohani criou expectativas de que seja possível avançar nas negociações sobre o programa nuclear iraniano – ainda que não seja o Presidente mas Khamenei quem detém a última palavra sobre todos os assuntos de Estado. Na primeira conferência de imprensa que deu após a eleição, o dirigente arrefeceu as expectativas, ao assegurar que o país não vai parar ou suspender o enriquecimento de urânio (parte sensível do ciclo nuclear, que pode ser usada para chegar às concentrações do combustível usadas nas bombas atómicas).  

“A moderação em política externa não significa rendição nem conflito, não significa passividade nem confrontação. Moderação é uma interacção eficaz e construtiva com o mundo”, afirmou no discurso deste sábado, em que pareceu estipular as condições em que o seu Governo quer negociar com as potências internacionais. Rohani diz que a sua noção de “entendimento construtivo” passa por um diálogo “assente na igualdade, no respeito e na confiança mútuos” e assegura que a política externa iraniana terá sempre em conta “os direitos da nação” e “as directivas do Líder Supremo”.

Estará convencido de que, adoptando um tom diferente do seu antecessor, convencerá as potências a aceitar que o Irão enriqueça urânio mediante garantias de que não desenvolverá armas nucleares. “A eleitores iranianos enviaram uma mensagem de paz  […], uma mensagem de recusa da violência e do extremismo”, sublinhou dizendo esperar que “todo o mundo compreenda esta mensagem e responda de maneira apropriada”.

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