Representante da ONU para o Iraque alerta para o risco de colapso do país

Nickolay Mladenov pediu que todas as facções parlamentares participem na sessão inaugural da nova legislatura, para que se possa iniciar o processo de formação de um novo Governo.

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Ataque suicida em Kirkuk fez 30 mortos AFP/MARWAN IBRAHIM

O alto representante das Nações Unidas para o Iraque, Nickolay Mladenov, alertou para o risco iminente de desagregação do país, por causa do impasse político que tem impedido a formação de um novo Governo.

Em comunicado divulgado na véspera da primeira sessão da nova legislatura, em Bagdad, Mladenov disse que a eventual recusa das minorias parlamentares em participar nos trabalhos “só serve os interesses daqueles que procuram dividir a população do Iraque e destruir as hipóteses de paz e prosperidade”. Um novo adiamento do processo de constituição do Executivo “mergulhará o país no caos”, estimou.

O representante das Nações Unidas referia-se à anunciada suspensão da participação dos ministros curdos no Governo do primeiro-ministro (xiita) Nouri al-Maliki, anunciada na sexta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Hoshyar Zebari. O chefe do Governo acusa os curdos de promover a insurreição e esconder extremistas, para justificar a sua agenda de expansão da sua região autónoma no Nordeste.

A instabilidade provocada pelo avanço dos combatentes do grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIL) pelo país dentro, a partir da Síria, foi a gota de água para os políticos do Curdistão, cujas relações políticas com a maioria xiita de Bagdad tinham vindo a deteriorar-se desde o início do ano. Uma disputa sobre a distribuição das receitas petrolíferas levou à suspensão das transferências do Governo central para a região que no papel é apenas semi-autónoma. Agora, perante a ameaça dos rebeldes sunitas, os curdos terão concluído que a única forma de defender os seus interesses era concluir o processo de auto-determinação.

O presidente do governo regional do Curdistão, Massoud Barzani, prometeu a realização de um referendo para a independência: vários analistas internacionais consideram, contudo, que a ameaça de secessão poderá ser o seu trunfo para negociar uma maior autonomia para a região e uma maior representatividade no Governo de Bagdad.

Na sexta-feira, os soldados curdos peshmerga assumiram o controlo de dois campos petrolíferos no Norte do Iraque, alegadamente para impedir os planos de sabotagem das infra-estruturas do Ministério do Petróleo de Bagdad, segundo explicou à Reuters uma fonte do governo regional. As duas unidades em questão, com capacidade para produzir 400 mil barris por dia, estão paralisadas há largos meses.

Além de assumir as posições que o Exército nacional abandonou com a aproximação dos rebeldes do ISIL, as forças peshmerga continuam a movimentar-se para as áreas de maioria curda além da fronteira regional, tendo reforçado a sua presença em Kirkuk, a cidade que reclamam como capital histórica e que é o centro petrolífero do Iraque.

Na sexta-feira, um ataque suicida num posto de controlo a Sul da cidade provocou a morte de 30 pessoas. A estrada em causa é a principal via de escoamento dos milhares de refugiados que procuram escapar dos combates com os rebeldes sunitas.

Forças iraquianas executaram 255 prisioneiros sunitas
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) denunciou a execução sumária de pelo menos 255 prisioneiros sunitas pelas forças de segurança do Iraque ou milícias xiitas aliadas do Governo, em retaliação pelos ataques dos jihadistas do ISIL.

“Enquanto o mundo censura, e bem, as atrocidades cometidas pelo ISIL, não pode fazer vista grossa aos massacres sectários promovidos pelas forças nacionais e grupos pró-governamentais”, sublinhou o vice-director para o Médio Oriente da HRW, Joe Stork, à BBC. “O número de execuções extra-judiciais é a prova da existência de crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, acrescentou.

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