Renzi bate o pé, mas Europa não se entende sobre partilha de refugiados

Controlos na fronteira franco-italiana motivam fúria do primeiro-ministro italiano, que ameaça passar ao "Plano B" caso não haja acordo sobre redistribuição de refugiados

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Operação da polícia italiana para retirar imigrantes da fronteira com a França em Ventimiglia JEAN CHRISTOPHE MAGNENET/AFP

Mantêm-se as divisões entre europeus na resposta a dar à crise migratória no Mediterrâneo. Os ministros do Interior da UE reuniram-se nesta terça-feira no Luxemburgo para discutir as propostas que a Comissão Europeia apresentou no mês passado na sua agenda para as migrações, mas não conseguiram chegar a acordo sobre o controverso mecanismo de redistribuição de refugiados, que pretende transferir 40 mil requerentes de asilo sírios e eritreus, actualmente bloqueados em Itália e na Grécia, para outros países da UE.

Rihards Kozlovskis, ministro do Interior da Letónia, que exerce a presidência rotativa do Conselho, admitiu no final da reunião que "há opiniões divergentes sobre os detalhes da proposta da Comissão Europeia sobre um sistema de recolocação de requerentes de asilo". 

A proposta conta com a oposição dos países do Leste europeu, da Finlândia (onde o partido eurocéptico e anti-imigração Os Finlandeses entrou recentemente no governo), e até possivelmente da Espanha, que ameaça votar contra a proposta se a situação económica (e nomeadamente a taxa de desemprego) não for melhor tomada em conta na fórmula de redistribuição proposta por Bruxelas. 

Juntos, formam uma minoria de bloqueio que pode travar a ideia de quotas de redistribuição, uma proposta que tem sido defendida pessoalmente pelo Presidente da Ciomissão Europeia Jean-Claude Juncker desde o naufrágio no Mediterrâneo que vitimou mais de 700 pessoas em Abril.

Itália ameaça com "Plano B"

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, subiu o tom este fim-de-semana, depois de a França ter no sábado impedido mais uma dezena de migrantes de entrar em território francês, quando tentavam atravessar a fronteira franco-italiana. 

Os controlos pelas autoridades francesas, mas também suíças e austríacas, têm sido reforçados nas suas fronteiras com Itália, o que faz com que centenas de migrantes se acumulem nas cidades fronteiriças. Os governos franceses e italianos têm-se acusado mutuamente de estarem a violar as regras de Schengen.

Renzi não esconde a sua exasperação com a falta de solidariedade demonstrada pelos seus pares europeus: "Se a Europa escolher a solidariedade, está bem. Se não o fizer, temos um plano B pronto. Mas que afectaria sobretudo a Europa em primeiro lugar", ameaçou o líder italiano no domingo, sem dar mais detalhes. 

Mas segundo o Corriere della Sera, esse plano B poderia implicar a emissão em massa, por parte das autoridades italianas, de autorizações de residência de curta duração, que permitiram aos migrantes viajar dentro do espaço Schengen, algo que foi no entanto desmentido nesta terça-feira pelo ministro do Interior, Angelino Alfano. 

Para tentar apaziguar a situação, o comissário  dos assuntos internos, Dimitris Avramopoulos, promoveu um encontro entre Alfano, e os seus homólogos francês, Bernard Cazeneuve, e alemão, Thomas de Maizière, à margem da reunião. Mas à saída, o ministro francês voltou a martelar que "não há solidariedade sem responsabilidade", ou seja, que compete à Itália evitar que os requerentes de asilo não saiam do país.

Por seu lado, o ministro do Interior italiano, Angelino Alfano, afirmou antes da reunião que as imagens de migrantes acampados perto da pequena cidade de Ventimiglia, a apenas cinco quilómetros da fronteira francesa, "prova que os migrantes não chegam a Itália para ficar em Itália, mas sim para ir para a Europa."

"Penso que essas imagens são um murro na cara dos que não querem ver", disse Alfano.

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