Quem é que chamou Nemo ao nevão nos EUA?

Meteorologistas não gostaram da decisão do Weather Channel de dar nome ao nevão que assolou o Nordeste dos Estados Unidos e a costa Leste do Canadá.

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Nas redes sociais, não faltam fotografias que brincam com o nome dado à tempestade DR

Quando começou a tempestade no Nordeste dos Estados Unidos, os meteorologistas não sabiam ao certo se a neve ia chegar aos 45 ou aos 90 centímetros. Tinham, isso sim, a certeza de que o nevão não iria chamar-se Nemo. Mas foi esse o nome que a estação televisiva The Weather Channel (TWC) resolveu dar-lhe, argumentando que dar nomes às tempestades ajuda as pessoas a manterem-se informadas sobre elas. Mas porquê Nemo?

Ponto prévio: Nemo é um nome para rapaz, de origem grega, que significa “do vale”, e que em Latim quer dizer “ninguém”. Na página de Internet do TWC, vislumbra-se uma explicação para a escolha do nome, baseada nos “potenciais impactos” da tempestade. Mas o argumento não convence. O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA não"apadrinhou" a ideia.

A escolha do nome irritou os meteorologistas e deu gás à discussão no Facebook, onde foi criada uma página designada “STOP the Weather Channel from naming winter storms” (“Impeçam o Weather Channel de dar nomes às tempestades de Inverno”). Entre as críticas, não faltam piadas (muitas envolvem gatos que comem o peixe cor-de-laranja protagonista do filme À procura de Nemo).

“Não há mesmo um critério óbvio para determinar quando é que se pode dar nomes aos nevões, como há no caso dos furacões e das tempestades tropicais”, afirma o meteorologista Thomas Downs, citado pelo Los Angeles Times. Downs admite que, como o TWC é propriedade da NBC Universal, as estações desta cadeia televisiva podem ter-se entusiasmado com o nome do desenho animado da Disney. Terá sido um truque de marketing?

“Uma tempestade com nome deve ser um furacão, e apenas um furacão”, sublinha outro meteorologista, George Wright, ao mesmo jornal. “Um furacão é algo mais invulgar e devastador. Se começarmos a dar nomes a outras tempestades, as pessoas podem pensar que isto pode ser um furacão”, afirma.

O presidente do principal concorrente do TWC, o AccuWeather, também não poupa críticas. “Decidindo unilateralmente atribuir nomes às tempestades, o TWC confundiu o circuito mediático com a ciência e a segurança pública”, observa Joel Meyer. E acrescenta: “Isto não é uma boa política e vai confundir o público. As tempestades de Inverno são muito diferentes dos furacões.”

No site do TWC, reina a “febre” da “Nemomania”. A estação tem gráficos sobre a passagem do Nemo, notícias sobre os efeitos do Nemo e fotografias de leitores sobre o Nemo – a tempestade, não o peixe cor-de-laranja protagonista do filme da Disney.

O TWC decidiu começar a dar nomes às tempestades em 2011, depois do Snowtober, um nome que circulava no Twitter acerca de uma tempestade e que a estação aproveitou para captar mais leitores para o site. O director executivo do canal, Brian Norcross, argumenta que esta é a forma mais fácil de as pessoas se manterem atentas a toda a informação sobre uma tempestade.

Os norte-americanos começaram a dar nomes às tempestades tropicais nos anos 1940, para conseguirem gerir a informação sobre os vários fenómenos registados no Pacífico pelos Marines. Inicialmente eram escolhidos apenas nomes de mulheres, mas acabaram por optar também por nomes masculinos.

Nos EUA ocorrem cerca de 20 tempestades tropicais por ano, tornando relativamente fácil a decisão sobre a atribuição de nomes aos furacões. Mas há dezenas de tempestades – com neve, chuva e vento – todas as semanas. O TWC já preparou a lista de nomes para este ano: Draco, Gandolf, Luna, Zeus, Brutus e Walda são apenas alguns.

Notícia corrigida às 13h10: por lapso, escreveu-se que Gandolf é o nome do personagem do Senhor dos Anéis (este chama-se Gandalf)

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