Sem tréguas, situação humanitária em Gaza continua a deteriorar-se

Segundo dia de ataques aéreos em Gaza após a quebra da trégua pelo Hamas. Diplomacia recomeçou no Cairo mas informações eram contraditórias.

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Israel ripostou aos ataques do Hamas logo na sexta-feira Ahmed Zakot / Reuters

No segundo dia após o quebrar do cessar-fogo pelos combatentes palestinianos de Gaza, rockets continuavam a ser disparados contra Israel, bombas continuavam a cair sobre a Faixa de Gaza, mas havia já rumores de alguma movimentação diplomática no Cairo.

As declarações eram, no entanto, contraditórias. Fontes palestinianas diziam que estava próxima uma trégua não oficial. Israel, que tinha já afirmado que não negociaria sob fogo, negava que a sua equipa estivesse prestes a ir para o Cairo. 

O especialista em Médio Oriente da revista Foreign Policy, Daniel Nisman, citava rumores optimistas de que “tanto Israel como o Hamas estão mais dispostos a recuar em algumas das suas exigências” – o Hamas no completo fim do bloqueio incluindo a reabertura do porto de Gaza, Israel da total desmilitarização da Faixa de Gaza. Mas fontes envolvidas nas negociações diziam à Reuters que não esperavam grandes avanços.

O Hamas continuava, no entanto, a ameaçar uma “grande escalada” dos ataques de rockets contra Israel. “Se não tivermos resposta às nossas exigências, as nossas medidas defensivas vão ser intensificadas”, disse o vice-ministro da Informação Ihab al-Gussein.

O movimento islamista era comparado pelo diário israelita Yediot Ahronot a um animal ferido, tentando a todo o custo sobreviver. O Hamas precisa de uma vitória, mas tanto Israel como o Egipto temem que concessões o façam fortalecer-se, levando a uma nova guerra, seja daqui a semanas, meses ou anos.

Até agora, os islamistas no poder em Gaza estão a ter cuidado para não ultrapassar linhas vermelhas que possam levar ao recomeçar da incursão terrestre do Exército israelita. A maioria dos rockets disparados desde a quebra do cessar-fogo, foram reivindicados por outros movimentos palestinianos como a Jihad Islâmica, e não fizeram grandes estragos. Mas a qualquer momento, um rocket a cair num local relevante ou a provocar vítimas, seja por mau cálculo ou decisão deliberada, poderia mudar este quadro de ataques limitados. 

Israel disse ter atingido este sábado 30 alvos na Faixa de Gaza, e morreram mais cinco palestinianos, incluindo alguns encontrados nos escombros de uma mesquita bombardeada, segundo fontes locais. Na véspera tinham morrido outros cinco, e no total morreram mais de 1900 palestinianos de Gaza. O ministério dos Assuntos Religiosos diz que o exército israelita bombardeou – e destruiu – 63 mesquitas durante a guerra que começou há mais de um mês. Israel diz que o Hamas dispara rockets de perto destes edifícios.

A situação humanitária no terreno tem-se deteriorado cada vez mais. A organização não-governamental Human Rights Watch chamou a atenção para os efeitos do ataque que atingiu a única central eléctrica do território, há onze dias: “Dificultou drasticamente o bombear de água para as casas e o tratamento de esgotos, levou os hospitais, já a lutar para lidar com o aumento de baixas de guerra, a aumentar a sua dependência de geradores precários”, disse a organização este sábado.

“Afectou o fornecimento de comida porque com a falta de energia os frigoríficos não funcionam e obrigou as padarias a reduzir a sua produção de pão.”

Na Cisjordânia, por seu lado, houve confrontos em protestos contra a intervenção israelita em Gaza. Dois palestinianos foram mortos por soldados israelitas. 

Em Israel, as autoridades proibiram uma manifestação contra a guerra em Telavive, invocando o risco de concentrações públicas em áreas dentro do alcance dos projécteis do Hamas. Durante esta guerra, três civis (dois israelitas e um tailandês) morreram vítimas dos rockets (houve ainda 64 baixas militares).

Bibi é demasiado forte

Enquanto isso, o Presidente norte-americano, Barack Obama, deu uma grande entrevista ao New York Times em que falou da política dos EUA no Médio Oriente. Questionado sobre o conflito israelo-palestiniano, defendeu uma solução de dois Estados, mas disse que esta tem de começar pelos líderes israelitas e palestinianos.

No caso de Benjamin Netanyahu, “se ele não tiver algum tipo de pressão interna, é difícil que esteja disposto a fazer alguns compromissos difíceis, incluindo enfrentar o movimento dos colonos”, declarou.

“Já Abu Mazen [Mahmoud Abbas] é um problema diferente. De um certo modo, Bibi é demasiado forte e Abu Mazen é demasiado fraco para que sejam levados a tomar o tipo de decisões corajosas que fizeram Sadat ou Begin ou Rabin”. Avançar para um acordo de paz “irá precisar de liderança tanto dos palestinianos como dos israelitas para olharem para além do dia de amanhã”, continuou Obama, concluindo: “E isso é o mais difícil de fazer.”

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