Que se censure Dieudonné, o humorista antijudeu, pedem em França

Políticos e representantes da comunidade judaica apelam à interdição de espectáculos do artista que popularizou o gesto da quenelle

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O ministro do Interior está a estudar proibi o espectáculo "Le Mur" Benoit Tessier/REUTERS

Surgem de todos os lados as pressões para impedir os espectáculos do controverso humorista francês Dieudonné, acusado de ofender os sobreviventes do Holocausto com o gesto que popularizou da “quenelle”, visto como uma saudação nazi invertida. O presidente da Câmara de Paris, o socialista Bertrand Delanoë apelou à interdição do seu espectáculo Le Mur e a que não “se ceda perante criminosos”

“Os nossos antepassados bateram-se por valores civilizacionais para que nós cedêssemos perante criminosos?”, interrogou Delanoë, acusando Dieudonné M’bala M’bala de “fazer a apologia de crimes contra a humanidade.”

O casal de “caçadores de judeus” Klarsfeld, “em nome dos filhos e filhas dos deportados judeus de França”, apelaram à realização de uma manifestação na quarta-feira na cidade de Nantes, para exigir que o espectáculo do humorista seja proibido.

“Quem vai ver um Dieudonné quer ouvir fazer pouco dos judeus. Ele congrega os anti-semitas de todas as facções, sejam eles islamistas, de extrema-esquerda ou da extrema-direita”, afirmou ao Libération Arno Klarsfeld, o filho de Serge e Beate Klarsfeld, os “caçadores de judeus".

O ministro do Interior, Manuel Valls, está a estudar desde a semana passada a possibilidade de proibir os espectáculos do humorista, após a abertura de um inquérito judicial por "incitação ao ódio racial". Dieudonné, entretando, teve ainda uma nova nova derrapagem verbal contra o jornalista (judeu) da France Inter Patrick Cohen: “Quando o ouço falar, digo para mim próprio, ‘as câmaras de gás… é uma pena’”.

“Dieudonné é profundamente antijudeu. Nos seus espectáculos, não é apenas uma representação, é um comício”, afirmou o ministro Valls, citado pelo Le Monde.

Mas o que o ateou a polémica em torno de Dieudonné foi o gesto que popularizou – milhares de pessoas colaram imagens de si próprias a fazer este gesto online, e o futebolista Nicolas Anelka foi apenas o mais conhecido.

Quenelle, ou glissant des quenelles, como diz o seu inventor, Dieudonné M’bala M’bala, é um gesto, anti-sistema, segundo o humorista, ou anti-semita, segundo o Governo francês e parte dos seus seguidores, onde se incluem, por exemplo, membros do partido de extrema-direita Frente Nacional.

O presidente da Liga Internacional Contra o Racismo e o Anti-semitismo, Alain Jakubowicz, descreve-o como uma “saudação nazi invertida, o que significa a sodomização das vítimas” do Holocausto. Quenelles são uns bolinhos fritos, de peixe ou de carne. O gesto, na verdade, assemelha-se bastante ao tradicional manguito.

O humorista não é nenhum novato nas tiradas anti-semitas, embora na década de 1990 tenha tido um duo com um artista judeu. Mas em 2003 surgiu com adereços de judeu ultra-ortodoxo e um blusão militar num monólogo que acabava com a saudação nazi.  Nos últimos anos aproximou-se de Jean-Marie Le Pen líder da Frente Nacional, padrinho do seu quarto filho, nascido em 2008.

 
 
 
 

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