Que é ininteligível (para alguns)

“Não percebo nada de mecânica. Isso para mim é grego.” Esta é uma das frases que o dicionário escolhe para mostrar o sentido de “grego” como algo “que é ininteligível, inacessível”. Facilmente se consegue imaginar Angela Merkel a dizer esta frase, não a propósito de mecânica, mas de democracia. Mais ainda se imagina Passos Coelho, que perante a “incompreensão” do programa de Alexis Tsipras, vencedor das eleições na Grécia, logo disse tratar-se de “um conto de crianças”. (Pobre de quem não escutou histórias para a infância no tempo certo e escolheu criar mais tarde mundos de faz-de-conta.)

O adjectivo “grego” significa também “da Grécia moderna, país da Europa”. E ainda “da antiga Grécia”. Exemplos: “Os filósofos gregos”; “mitologia grega”; “tragédia grega”. Este último muito vaticinado desde que o Syriza chegou ao Governo. Alguns europeus ficaram expectantes (ansiosos…) pelo momento da “tragédia”. Ora porque se aliou ao partido conservador e nacionalista Gregos Independentes, numa espécie de desconfiança perante quem quer “agradar a gregos e a troianos”, ora porque se mostrou determinado a cumprir promessas eleitorais centradas nas pessoas comuns. E não em bancos. O que remete para outra frase feita: “Ver-se grego para” (experimentar grande dificuldade em resolver alguma coisa, ver-se atrapalhado).

Na quinta-feira, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, disse sobre o encontro com Tsipras: “Raramente senti durante o meu mandato que tive uma discussão tão construtiva e aberta.” Como se escreveu por estes dias, talvez o mantra do novo primeiro-ministro da Grécia esteja certo: “A esperança começa hoje.” Para gregos e troianos.

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