Quase 350 detidos por pornografia infantil em megaoperação mundial

Investigação liderada pelo Canadá e que demorou três anos permitiu deter pessoas em vários países que enviavam ou consumiam imagens e vídeos de site com base em Toronto.

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Imagem de um investigador espanhol a examinar imagens num computador durante um processos de pornografia infantil Reuters/arquivo

Uma investigação liderada pelo Canadá relacionada com pornografia infantil permitiu que as autoridades detivessem em todo o mundo 348 pessoas — num grupo muito diverso onde se incluem também professores, profissionais de saúde, padres ou treinadores desportivos.

As autoridades policiais de Toronto, citadas pela Reuters, anunciaram na quinta-feira à noite que 108 das detenções aconteceram no Canadá, 76 nos Estados Unidos e que as restantes 164 foram feitas em vários países, desde Espanha à Austrália. O trabalho foi o resultado de três anos de investigação a uma empresa com sede na capital canadiana e que distribuía pornografia infantil.

“As detenções incluem 40 professores, nove médicos e enfermeiros, 32 pessoas que trabalhavam como voluntários com crianças, seis pessoas ligadas à área judicial, nove pastores ou padres e três pais adoptivos”, esclareceu a inspectora Joanna Beaven-Desjardins, responsável pela unidade de crimes sexuais de Toronto, durante uma conferência de imprensa.

386 crianças resgatadas
Na mesma conferência foi avançado que a operação envolveu 30 forças policiais da Austrália, Espanha, Irlanda, Grécia, África do Sul, Hong Kong, México, Noruega e Estados Unidos, entre outras, que permitiram resgatar 386 crianças — a maioria das quais não tinha sequer entrado na adolescência. Mas Joanna Beaven-Desjardins, citada pela AFP, salientou que “as suas vidas foram transformadas para sempre”.

A operação começou quando a polícia começou a acompanhar a actividade da empresa chamada Azovfilms.com e do seu dono, Brian Way, ainda em Outubro de 2010. Com a ajuda dos Estados Unidos, conseguiram aceder à base de dados e perceber não só quem produzia os conteúdos mas também quem os consumia.

O advogado do homem de 42 anos não quis comentar o caso e o site já está desactivado. Alguns jornais referem que o site renderia por ano 3,8 milhões de dólares (cerca de 2,8 milhões de euros). Brian Way está detido e é acusado de 11 crimes, diz a AFP.

Segundo relatou a inspectora, muitos dos filmes foram feitos em Washington por um treinador de basebol de jovens (cerca de 500) e outros eram enviados a partir da Geórgia por uma empregada de uma escola que colocou uma câmara numa casa de banho de estudantes para obter imagens dos genitais. No total, foram encontradas 350 mil imagens e mais de 9000 vídeos de abusos sexuais, sendo que as autoridades esperam fazer ainda mais detenções. Foi também mencionado o caso de um oficial de polícia no Texas.

750 mil predadores sexuais ligados a cada minuto
O número de crianças vítimas de abuso sexual online continua a crescer, em parte devido ao facto de ser cada vez mais fácil aceder à Internet nos países em desenvolvimento. Com base em dados das Nações Unidas e do FBI, a organização não-governamental holandesa Terre des Hommes estima que existam 750 mil predadores sexuais infantis ligados à Internet em cada minuto. Foi esta organização que recentemente criou Sweetie, a menina virtual filipina de dez anos que ajudou a encontrar predadores sexuais na Internet.

Também no final de Outubro, o PÚBLICO avançou que a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, decidiu centralizar no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) a investigação dos crimes sexuais cometidos contra crianças através da Internet e outros meios informáticos. Em causa estão os crimes sexuais comunicados às autoridades portuguesas por outros países ou entidades não-governamentais estrangeiras, como é o caso das que gerem motores de busca e redes sociais.

Na origem da decisão, que versa sobre crimes de "posse, fabrico e distribuição de pornografia infantil, a instigação de menores à prática de actos sexuais, a prostituição infantil e o envio de material de natureza obscena a crianças", está a necessidade de uma maior celeridade na obtenção de provas e de um tratamento centralizado da informação para identificar a "existência de redes criminosas".

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