Putin declara segredo de Estado morte de militares em tempo de paz

Guerra no Leste da Ucrânia é o motivo do novo decreto assinado pelo Presidente russo.

Foto
Um veículo armado russo perto da fronteira com a Ucrânia Maria Tsvetkova/REUTERS

Quando se multiplicam as denúncias da descoberta de campas de militares russos mortos na Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin assinou um decreto que acrescenta à lista dos segredos de Estado as mortes de militares enviados em “operações especiais” em tempos de paz. Sem, no entanto, definir o que cabe no conceito de “operações especiais”.

O decreto publicado nesta quinta-feira no site do Governo russo indica que divulgar “informações relativas à perda de pessoa militar em tempos de paz durante operações militares especiais” pode ser punida com uma pena até quatro anos de prisão, se implicar a transmissão de informações ao estrangeiro. “Mas não vi uma definição jurídica do conceito de operação especial”, sublinhou à AFP o perito militar Pavel Felgenhauer. “Isto quer dizer que tudo pode ser designado como tal".

“O motivo pelo qual as baixas não devem ser tornadas públicas é o Donbass”, a região Leste da Ucrânia onde os separatistas combatem as forças de Kiev, afirma Felgenhauer. “Deixemos os soldados morrer e os seus familiares serem silenciados. Os que não estiverem de acordo, metemo-los na prisão por espionagem”, escreveu no seu blogue o opositor Alexei Navalni.

O decreto surge num momento em que se multiplicam os movimentos de forças de Moscovo junto à fronteira russo-ucraniana. O Kremlin diz que qualquer sugestão de uma invasão iminente é “inapropriada”, mas para além dos alertas da NATO e das autoridades ucranianas, os próprios repórteres da AFP e Reuters relatam ter visto uma enorme concentração de soldados e de armamento nos últimos dias junto ao Leste da Ucrânia.

Ainda na semana passada foi notícia a descoberta de campas de três soldados russos que estariam envolvidos em operações de reconhecimento no interior do território ucraniano. E nas redes sociais há muitos testemunhos e antigos soldados e dos seus familiares sobre as acções para as quais foram enviados na Ucrânia.

“Este decreto é uma violação impensável da liberdade de expressão e cria uma situação em que toda a investigação jornalística se torna ilegal”, indignou-se a jornalista e opositora Ksenia Sobtchak, citada pela AFP.

Sugerir correcção
Ler 155 comentários