Putin assina proposta para integração da Crimeia na Rússia

Presidente russo discursa nesta terça-feira perante o Parlamento. Sanções dos EUA e da UE vistas como "uma palmada nas mãos", Moscovo diz que despertam apenas "ironia e sarcasmo".

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O Presidente russo vai fazer uma declaração no Parlamento russo MIKHAIL KLIMENTYEV/afp

O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta terça-feira uma ordem executiva com vista à integração da Crimeia na Federação Russa, instando o Governo e o Parlamento a aprovarem o documento de forma "expedita".

"Vladimir Putin assinou a ordem executiva Sobre o Cumprimento do Acordo entre a Federação Russa e a República da Crimeia Relativa à Admissão da República da Crimeia na Federação Russa e à Criação de Novas Entidades na Federação Russa", lê-se num comunicado publicado no site do Kremlin.

A ordem executiva do Presidente Vladimir Putin é acompanhada por uma recomendação ao Governo e ao Parlamento para que aprovem a proposta de acordo com vista à integração da Crimeia na Federação Russa de forma "expedita" e "ao mais alto nível".

Um dia depois de ter reconhecido a Crimeia como um Estado independente e soberano, o Presidente Vladimir Putin dá assim mais um passo para a integração do território.

Logo pela manhã, ainda antes de anunciar a assinatura da ordem executiva, Putin transmitira oficialmente aos legisladores e ao governo o pedido das autoridades da Crimeia para passarem a fazer parte da Federação Russa.

O pedido feito pelo governo pró-russo da Crimeia após os resultados do referendo de domingo terá de percorrer o seu caminho legislativo – a proposta de integração terá de ser aprovada pelos governos da Rússia e da Crimeia e pelo Tribunal Constitucional russo, e ratificada pelas duas câmaras do Parlamento russo (o Conselho da Federação e a Duma).

Ainda na manhã desta terça-feira, Vladimir Putin irá discursar perante o Parlamento russo, aguardando-se que avance mais pormenores sobre o futuro da Crimeia.

Sanções são apenas "uma palmada nas mãos"
A rapidez com que Moscovo tem agido após o anúncio dos resultados do referendo de domingo mostra que Vladimir Putin não terá ficado muito impressionado com as sanções anunciadas na segunda-feira pela União Europeia e pelos Estados Unidos.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros anunciaram a "limitação de viagens" e o "congelamento de bens" a 21 cidadãos russos e ucranianos, que acusam de terem sido responsáveis pela situação na Crimeia. Os ministros partiram de uma lista com mais de uma centena de nomes, mas as várias sensibilidades levaram a que o grupo tenha sido reduzido a duas dezenas – de que não fazem parte, pelo menos por agora, presidentes das grandes empresas de petróleo e de gás do país.

A lista, disponível no Jornal Oficial da União Europeia, inclui três responsáveis cujos nomes surgem também entre os 11 que o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pôs de lado para poderem vir a ser alvos de sanções do mesmo género. A principal diferença é que a lista europeia inclui alguns responsáveis militares, como o vice-almirante Aleksandr Viktorovich Vitko, comandante da Frota do Mar Negro.

Mas as respostas da União Europeia e dos Estados Unidos, que se dirigem aos políticos mais próximos de Putin, não parecem ter afectado a confiança de Moscovo, a julgar pela resposta do mundo das finanças e pelas declarações de alguns dos visados.

Um dos mais ousados foi o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin, que usou o Twitter para ridicularizar as sanções definidas por Barack Obama. "Acho que a ordem do Presidente dos EUA foi escrita por algum brincalhão", escreveu Rogozin, questionando também o que iria fazer Washington aos responsáveis russos e ucranianos que não têm bens no estrangeiro.

Nesta terça-feira, um dos principais conselheiros de Putin para as relações internacionais, Iuri Ushakov, disse às agências noticiosas russas que as sanções anunciadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia despertam apenas "ironia e sarcasmo". 

A relevância das sanções europeias e americanas foi questionada em alguns jornais de ambos os lados do Atlântico. No The Washington Post, o colunista Dana Milbank escreveu que "a conversa sobre os amigos [de Putin] pode impressionar a audiência americana, mas não há muito nas sanções que possa enfraquecer os amigos de Putin ou castigar a Rússia pelas suas acções", notando ainda que a bolsa de Moscovo subiu quase 4% e que o rublo aumentou a sua cotação face ao dólar e ao euro, "aparentemente devido à crença de que as sanções dos EUA, e  sanções similares anunciadas pela União Europeia, não foram tão más como se receava".

Larry Elliot, editor de Economia no britânico The Guardian, descreveu as sanções como "uma palmada nas mãos" de Vladimir Putin. "A reacção dos mercados financeiros às sanções do Ocidente é sintomática. O rublo e as acções na bolsa de Moscovo subiram, e o preço do petróleo desceu. Conclusão: os passos anunciados pelos EUA e pela UE foram vistos como uma palmada nas mãos de Vladimir Putin, o mínimo que poderia ser feito sem que Barack Obama, Angela Merkel e companhia perdessem a face", escreveu o jornalista do The Guardian.

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