Putin exibe poder russo e apela ao “património comum” dos aliados de 1945

“A História pede-nos que sejamos de novo vigilantes”, disse, na grandiosa parada militar que este sábado assinalou os 70 anos da derrota nazi.

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Putin quer que não seja esquecido “património comum” dos vencedores RIA Novosti/AFP

Com uma parada militar de uma grandiosidade comparável ao tempo da Guerra Fria, a Rússia comemorou, este sábado, o fim da II Guerra Mundial na Europa. A ocasião foi aproveitada pelo Presidente, Vladimir Putin, para elogiar a “contribuição” dos Aliados para a vitória de 1945 sobre a Alemanha nazi e apelar a que não seja esquecido o “património comum” de valores dos vencedores. Mas também para reclamar para a antiga União Soviética um papel determinante no desfecho do conflito.

“Agradeço aos povos da Grã-Bretanha, da França e dos Estados Unidos pela sua contribuição para a vitória. Agradeço aos diferentes países antifascistas que tomaram parte nos combates contra os nazis, nas fileiras da resistência e na clandestinidade”, afirmou, segundo a AFP, antes de ser guardado um minuto de silêncio em memória das vítimas.

“É preciso lembrar que foi o Exército Vermelho que, após um assalto devastador sobre Berlim, pôs um ponto final na guerra contra a Alemanha hitleriana”, disse também, no início da gigantesca parada, de 16 mil soldados e sofisticado equipamento militar, que, na Praça Vermelha, em Moscovo, assinalou os 70 anos do fim da II Guerra Mundial na Europa. “A União Soviética participou nas batalhas mais sangrentas”, acrescentou, numa alusão aos 27 milhões de soviéticos mortos.

Numa cerimónia boicotada pelos políticos ocidentais, mas em que teve a seu lado dirigentes de potências emergentes, como o Presidente chinês, Xi Jinping, que se sentou ao seu lado direito, e o indiano, Pranab Mukherjee, Putin apelou a que não seja esquecido o “património comum” de “confiança e unidade” dos vencedores. Foram esses valores, disse, que “fundaram a ordem mundial do pós-guerra”, em que instituições como as Nações Unidas foram “eficazes para resolver diferendos e conflitos”. Mais tarde, numa recepção com as cerca de três dezenas de convidados que se deslocaram a Moscovo, repetiu “que o espírito da aliança que se forjou na II Guerra Mundial deve servir de exemplo hoje”.

Na Praça Vermelha, o líder russo tinha lamentado que “nas últimas décadas os princípios básicos” da cooperação internacional tenham sido “negligenciados” em detrimento de “tentativas de criação de um mundo unipolar”. A alusão a um mundo “unipolar” recupera, como lembra a Reuters, um discurso crítico para os países ocidentais que fez em 2007.

Vladimir Putin disse também que  a História nos pede que “sejamos de novo vigilantes”, lembrando que as crenças “numa superioridade racial levaram a uma guerra sangrenta”. A AFP notou que, desta vez, o Presidente russo não evocou directamente a “ameaça fascista” a que habitualmente associa o Governo da Ucrânia – onde, no Leste, se arrasta um conflito com rebeldes pró-russos que em pouco mais de um ano fez 6200 mortos.

O outro momento alto das celebrações em Moscovo foi, mais tarde, a marcha do “regimento imortal”, formado por familiares que exibem fotos de parentes mortos na frente de combate. Desta vez foram 250 mil pessoas, segundo a polícia, e entre elas, Putin. “Estou feliz que o meu pai – tenho o retrato dele nas mãos – possa estar na Praça Vermelha comigo”, disse.   

Em Donetsk, seguindo a fórmula russa, separatistas da Ucrânia organizaram uma mini-parada, com cerca de 1500 combatentes, carros de combate e mísseis antiaéreos. Tal como em Moscovo, marcaram presença no desfile bandeiras vermelhas e retratos de  Estaline.O conflito com o governo de Kiev – pela primeira vez, o essencial das celebrações foi antecipado para dia 8, data em que é comemorado o fim da guerra na Europa Ocidental – esteve ali bem presente. Numa tribuna montada junto a uma estátua de Lenine, na principal praça da cidade, o líder da autoproclamada república de Donetsk, Alexandre Zakhartchenko, saudou os “combatentes endurecidos pelas batalhas de Debaltseve e Ilovaïsk”, das mais mortíferas do último ano.

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