Pussy Riot prometem continuar a lutar contra Vladimir Putin

Activistas acusaram igreja Ortodoxa Russa de interferir para a sua detenção, após concerto na catedral de Moscovo em 2012.

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As artistas deram uma conferência de imprensa em Moscovo REUTERS/Tatyana Makeyeva

“No que diz respeito ao Presidente Vladimir Putin, não mudámos de posição: a nossa intenção é continuar a protestar até ele cair do poder”, declarou Nadia Tolokonnikova, uma das integrantes da banda punk russa Pussy Riot, que foi libertada há quatro dias na sequência de uma amnistia proposta pelo Kremlin e subscrita pelo Parlamento de Moscovo.

“Se não nos tivessem metido na cadeia, não teríamos deixado de fazer o que fazemos. Não é agora que vamos parar”, prosseguiu, numa conferência de imprensa em Moscovo, em que ela e Maria Alekhina não se coibiram de criticar severamente o Presidente russo – e a sua política repressiva. Além do combate político contra o Presidente, as duas tencionam dedicar os seus esforços ao activismo pelos direitos dos reclusos, através de uma nova organização que será financiada pelo presidente da Aliança Popular, Alexei Navalni.

Três das integrantes do colectivo Pussy Riot foram detidas e condenadas a penas de prisão por actos de hooliganismo e incitamento ao ódio religioso em Outubro de 2012, seis meses depois de uma performance na catedral Cristo o Salvador de Moscovo, que incluiu uma “oração punk” em que pediam à Virgem Maria que libertasse a Rússia de Putin. Uma delas, Yekaterina Samutsevich, já tinha sido libertada na sequência de um acordo judicial.

O processo, denunciou Maria Alekhina – que cumpriu uma greve da fome na prisão em protesto contra as condições da sua detenção (durante cinco meses em regime de solitária) –“teve a mão da igreja Ortodoxa Russa”, que pressionou ou interferiu para que as mulheres fossem detidas.

E a sua libertação, quatro meses antes do fim da pena, deve-se à “obsessão de Putin em limpar a sua imagem” antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno na cidade russa de Sochi, que, de acordo com Alekhina, é um “projecto pessoal” do Presidente.

Na sua opinião, Putin só concedeu a amnistia por receio de uma possível contestação internacional às políticas do regime em termos de direitos humanos durante a competição. “As autoridades só tomaram esta decisão por estarem debaixo de intensa pressão, tanto na Rússia como nos países ocidentais. Não há aqui nada de humanitário. Depois da olimpíada, a repressão continua”, sublinhou Nadezhda Tolokonnikova.

Vários chefes de Estado estrangeiros recusaram marcar presença na cerimónia de abertura em protesto contra as prisões políticas ou as leis que discriminam os homossexuais na Rússia – uma atitude que as Pussy Riot agradecem. “Quer se goste, quer não, a participação nos Jogos Olímpicos é uma aceitação tácita da situação política interna na Rússia e a aceitação do caminho que está a ser seguido por uma pessoa que está mais interessada nos jogos do que em tudo o resto: Vladimir Putin”, mencionou.

“O mundo de Putin está repleto de desconfianças e conspirações. Acho que ele realmente acredita que o Ocidente é uma grande ameaça para a Rússia”, observou Maria Alekhina. “Putin é um cheka [nome dado aos agentes da polícia política secreta da União Soviética precursora do KGB], fechado, opaco, com uma infinidade de crenças e realmente com medo de muita coisa”, prosseguiu Tolokonniva. “Ele pensa que pode controlar tudo, mas isso é impossível e mais cedo ou mais tarde o controlo vai-lhe escapar de entre as mãos”, antecipou a sua companheira.

Questionadas sobre quem poderia ocupar o lugar de Putin à frente do Governo russo, Nadezhda Tolokonnikova disse que não se importaria que fosse Mikhaïl Borissovitch Khodorkovski, o antigo homem forte da petrolífera Yukos e opositor político do Presidente, que passou dez anos na prisão por fraude e evasão fiscal e também recebeu um indulto “por razões humanitárias” na mesma semana.

Supremo tribunal vai rever caso de Khodorkovski

Khodorkovski foi transportado de uma colónia penal no Árctico para Berlim, onde permanecerá no exílio. No entanto, e ao contrário das suas expectativas, a hipótese de um regresso à Rússia não estará totalmente eliminada, uma vez que o Supremo Tribunal fez saber que está disponível para rever uma decisão de um juiz de primeira instância que condenou o antigo oligarca num segundo processo de fuga ao fisco (numa pena que contempla ainda a “devolução” de cerca de 500 milhões de dólares ao fisco).

Em Julho, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos de Estrasburgo analisou um recurso apresentado pelo ex-magnata e solicitou a anulação da injunção que obriga ao pagamento da multa, por ser contraditória com as disposições da legislação do país.

Em declarações à imprensa internacional, um dia depois da chegada a Berlim, Khodorkovski disse que não voltaria à Rússia enquanto esse processo estivesse pendente, por não ter nenhuma garantia de que não seria impedido de voltar a sair do país, caso desejasse.

Activistas da Greenpeace já começaram a deixar a Rússia

Cinco activistas britânicos detidos a bordo de uma embarcação da Greenpeace, em Setembro, após um protesto contra a exploração petrolífera em offshore em águas protegidas do mar de Barents, regressaram esta sexta-feira a casa, depois de cem dias de prisão preventiva na Rússia.

Os ecologistas e membros da tripulação (30 pessoas no total, de diversas nacionalidades) foram detidos pela guarda costeira por suspeita de pirataria. Acabaram por ser acusados de crimes de hooliganismo, mas o seu processo também foi abrangido pelo mesma amnistia que permitiu a libertação das músicas da banda Pussy Riot.

Os britânicos dizem que foram bem tratados, mas confirmaram que as condições na prisão de Murmansk eram” muito difíceis”. “Não éramos prisioneiros de guerra, mas a estética da nossa colónia penal, com o arame farpado e as barras de ferro, era exactamente como a de um campo de concentração”, descreveu Anthony Perret, à Radio 4 da BBC.

A Greenpeace confirmou numa nota oficial que “todos os envolvidos no processo beneficiaram da amnistia aprovada na semana passada pelo Parlamento da Rússia, e viram as queixas contra si retiradas sem a admissão de qualquer culpa”.


 
 

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