PSOE decide abster-se e abre caminho a novo Governo de Rajoy

Decisão afasta cenário de terceiras legislativas num ano, às quais os socialistas se apresentariam muito enfraquecidos. Líder interino diz esperar abstenção em bloco dos deputados.

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Reuters/ANDREA COMAS

O comité federal do PSOE aprovou neste domingo a abstenção do partido à investidura de Mariano Rajoy, o líder do Partido Popular, abrindo caminho a que Espanha tenha um novo Governo dentro de uma semana, após duas eleições legislativas e mais de dez meses de um inédito impasse institucional.

Reunido no mesmo local onde há três semanas Pedro Sánchez saiu derrotado e forçado a demitir-se, o órgão máximo dos socialistas espanhóis decidiu que, se como tudo indica, o rei voltar na terça-feira a incumbir Rajoy de formar Governo, o partido irá abster-se – não na primeira votação, em que é necessária maioria absoluta para aprovar a nomeação de Rajoy, mas na segunda, em que basta o voto favorável da maioria simples dos deputados.

A moção que defendia a abstenção foi aprovada com 139 a favor e 96 contra, uma maioria superior à que ditou o afastamento Sánchez, mas que mostra o quanto o PSOE continua dividido entre abrir caminho a um segundo Governo conservador e avançar – debilitado pelas fracturas internas e sem um novo líder em funções – para aquelas que seriam as terceiras legislativas desde Dezembro. O PP venceu os dois escrutínios, mas de ambas as vezes sem eleger deputados suficientes para governar apenas com o aval do Cidadãos (centro-direita).  

“Ninguém tem o direito de obrigar os cidadãos a votar pela terceira vez, pelo simples facto de as duas vezes anteriores não terem satisfeito as suas expectativas”, argumenta a moção vencedora, num aceno às sondagens que indicam que a maioria dos espanhóis, incluindo os próprios eleitores socialistas, não queria novas eleições. Uma posição repetida na reunião do comité pela presidente do governo da Andaluzia, Susana Díaz, que foi a mais feroz opositora das tentativas de Sánchez para formar uma maioria alternativa ao PP, com sucessivas tentativas de aproximação ao Cidadãos e ao Podemos.

Na reunião foi igualmente discutida, mas não votada, uma moção exigindo que o partido mantivesse a oposição à investidura de Rajoy, argumentando que “o PSOE não pode ser companheiro de viagem do Governo mais insensível e neoliberal” da democracia espanhola. Foi também nesse sentido que argumentaram a maioria dos 54 dirigentes que pediram a palavra na reunião, num debate que o presidente da comissão gestora, Javier Fernández, disse “não ter tido nada a ver” com a caótica anterior reunião da cúpula.

A moção votada não o afirma expressamente, mas o líder interino deixou claro que os deputados socialistas se devem abster em bloco na segunda votação, prevista para sábado ou domingo, apesar de bastarem 11 votos nesse sentido para Rajoy possa tomar posse. A abstenção, insistiu Fernández, “não é algo de que devamos ter vergonha”, “nem significa o apoio” ao executivo conservador. Mas, ainda antes da reunião, já o líder dos socialistas da Catalunha, Miquel Iceta, tinha dito que os seus parlamentares vão manter o voto contra. “Tentarei persuadi-los do contrário”, afirmou Fernández, sublinhando que a união de todos os deputados “é o melhor para os socialistas”.

Com a decisão deste domingo, põe-se em marcha um calendário apertado para a entrada em funções do novo executivo, o que terá de acontecer até ao final do mês. Segunda e terça-feira, o rei Felipe VI volta a ouvir os líderes dos partidos com assento parlamentar, devendo incumbir, pela segunda vez desde as legislativas de Junho, o líder do PP de formar Governo. Segue-se o debate no Parlamento, provavelmente na quinta-feira, e no dia seguinte a primeira votação, na qual o PSOE irá votar contra, devendo a votação final acontecer no próximo domingo, dia 30.

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