Protestos no Líbano sobem de tom com invasão do ministério do Ambiente

Activistas penalizaram Governo por não cumprir o ultimato lançado nos protestos do fim-de-semana. Ministério do Interior diz que novas invasões a edifícios do poder podem ser reprimidas com violência.

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“Parece que o Governo persiste em ignorar as exigências do povo libanês.”, dizem os activistas AFP

Os activistas que invadiram o ministério do Ambiente em Beirute prometem novas acções contra a paralisação da classe política no Líbano, caso o Governo continue a ignorar as suas exigências. Isto apesar de o ministro do Interior ter prometido nesta quarta-feira que a polícia passará agora a responder “com a lei e com a força” a novas invasões de edifícios governamentais.

Ao cabo de mais de oito horas da noite de terça-feira, cerca de 30 activistas do movimento “Vocês Fedem” invadiram e ocuparam os corredores do ministério do Ambiente na noite de terça. Exigiam a demissão de de Mohammad Machnouk, o ministro do Ambiente, visto como o principal responsável pela crise na recolha do lixo em Beirute que acabou por gerar um forte movimento social contra a organização política libanesa. No último sábado, por iniciativa do "Vocês Fedem", dezenas de milhares de pessoas exigiram eleições parlamentares em Beirute, para além da saída de Mohammad Machnouk e a investigação a actos de violência da polícia. Foi a maior manifestação alguma vez organizada pela sociedade civil no Líbano.

A ocupação do ministério aconteceu ao acabarem as 72 horas do ultimato anunciado no sábado: caso Machnouk não se demitisse, o ministério do Interior não se responsabilizasse pelas violência da polícia e não fossem convocadas novas eleições, as reivindicações tornar-se-iam mais intensas. Foi o que aconteceu. “Não forçámos o ministro a demitir-se, mas aumentámos a intensidade do movimento”, disse nesta quarta-feira o activista e porta-voz do movimento “Vocês Fedem”, Assaad Thebian. “Parece que o Governo persiste em ignorar as exigências do povo libanês.”

É provável que o continue a fazer. As divisões sectárias nos órgãos de poder são de tal maneira paralisantes que há mais de um mês que o Governo é incapaz de chegar a acordo sobre uma nova empresa que receba o lixo da capital – o último aterro ficou sobrecarregado em meados de Julho.

Não há Presidente há mais de um ano e o Parlamento, que não consegue tomar decisões substanciais desde 2005 – como aprovar um Orçamento de Estado, por exemplo – já prolongou unilateralmente o seu mandato até 2017. O executivo é uma equipa interina composta pelo braço político do Hezbollah, o satélite xiita do Irão no Líbano, sunitas e cristãos maronitas. O Parlamento foi novamente incapaz de nomear um Presidente nesta quarta-feira. Foi a 28ª tentativa.

Perante a grande manifestação de sábado, o Governo libanês tenta agora aproximar-se das exigências nas ruas. Mas está ainda longe do essencial. Na segunda-feira, o ministro do Ambiente abandonou o comité que tenta resolver a crise do lixo na capital. Recusou-se, porém, a abandonar o cargo e o seu Governo continua hoje sem estar mais próximo de resolver assuntos cruciais como as frequentes falhas de electricidade e fornecimento de água, que contribuem para a insatisfação dos libaneses.  

Já nesta quarta-feira foi a vez de o ministro do Interior anunciar que estão a ser investigados oito polícias por agressões injustificadas na repressão aos primeiros protestos em Beirute, já há duas semanas, e em que mais de 400 pessoas ficaram feridas e houve pelo menos um morto. Mas Nohad Machnouk (não confundir com Mohammad, do Ambiente) insistiu em defender a acção da polícia, que na noite de terça-feira fez novamente vários feridos ao expulsar activistas do interior do ministério e dezenas de outros que se haviam concentrado em frente ao edifício.

“[O Governo] não quer simplesmente encarar o facto de que isto é um movimento genuíno de pessoas que estão fartas”, explica à AFP Maha Yahya, do think-tank para os assuntos do Médio Oriente da Carnegie. “Tem de encarar seriamente o facto de que isto não é sobre o lixo, é sobre a governação.”

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