Pró-russos da Ucrânia rejeitam conversações e anunciam ofensiva

Combates nos últimos dias causaram a morte de 262 pessoas. Putin acusa ucranianos de “operações militares em larga escala". Kiev fala em ofensiva de “unidades regulares" russas.

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Forças da autoproclamada República Popular de Donetsk Alexander Ermochenko/Reuters

Os factos e o endurecimento do discurso mostram que a paz está outra vez mais longe. Os rebeldes pró-russos do Leste da Ucrânia rejeitam falar em trégua e anunciaram que estão na ofensiva. A posição foi anunciada nesta sexta-feira, dia em que o Presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Governo de Kiev de ter dado “ordens criminosas” para bombardeamentos de áreas civis.

“Da nossa parte não haverá mais tentativas para falar de uma trégua”, disse o “presidente” da autoproclamada república separatista de Donetsk, Alexander Zakharchenko. "Vamos lançar uma ofensiva nas fronteiras da região de Donetsk", afirmou, citado pelas agências russas, num encontro com estudantes em Donetsk.

Na quinta-feira, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, convocou o seu Estado-Maior para reagrupar forças e responder ao que considera uma “agressão russa” e disse que os separatistas “vão pagar caro”. O secretário do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa da Ucrânia, Olexandre Tourtchinov, denunciou uma ofensiva que atribui a “unidades regulares das forças armadas russas” e acusou o Governo de Moscovo de querer “destruir o Estado ucraniano”.

A Rússia, alvo de pesadas sanções ocidentais, desmente o envolvimento directo no conflito.

O endurecimento do discurso – que faz temer um agravamento do conflito militar – acontece depois de violentos combates e bombardeamentos que, na quinta-feira, fizeram mais de 40 mortos, incluindo oito passageiros de um autocarro, e da perda do controlo do aeroporto de Donetsk pelo Exército ucraniano. Terá sido o dia mais sangrento desde o cessar-fogo acordo em Setembro e repetidamente violado.

As Nações Unidas informaram que 262 pessoas foram mortas em combates intensos nos últimos nove dias e referiu-se a esta fase como “o período mais mortífero” desde o cessar-fogo acordado em Setembro.

As declarações feitas esta sexta-feira por Vladimir Putin confirmam o extremar de posições. O Presidente russo reponsabiliza as autoridades de Kiev pelo agravamento de combates. Deram “ordem oficial para operações militares em larga escala praticamente ao longo de toda a linha de contacto” que divide as forças ucranianas dos separatistas, acusou. Essas ordens levaram ao uso de “artilharia e aviação” contra sectores “muito povoados”, disse também. “O resultado são dezenas de mortos e feridos, não apenas entre militares de ambos os lados mas … entre civis”, afirmou Putin numa reunião do Conselho de Segurança russo, segundo declarações transcritas pela Reuters.

“Aqueles que deram essas ordens criminosas são os responsáveis. As pessoas que estão a fazer isto devem saber que não há forma de resolver estes conflitos que não seja através de conversações de paz e medidas políticas”, disse o Presidente russo.

Putin declarou que a Ucrânia não respondeu a uma proposta que fez por escrito ao Presidente Poroshenko, para retirar armas pesadas da linha de demarcação, como um passo para um cessar-fogo.

Poroshenko acusou esta semana a Rússia de ter nove mil soldados na Ucrânia e disse que os militares de Kiev estão a garantir a manutenção da linha que divide separatistas e forças ucranianas, depois de ataques sofridos e da retirada do aeroporto de Donetsk, um lugar simbólico do conflito. Na Ucrânia, conta a AFP, a batalha pelo aeroporto é já comparada à de Estalinegrado, na II Guerra Mundial.

A União Europeia apelou entretanto a um “inquérito imparcial” para determinar as circunstâncias do bombardeamento que, na quinta-feira, atingiu o autocarro que circulava num bairro de Donetsk até aqui poupado aos combates entre o Exército ucraniano e os separatistas.

A agência das Nações Unidas para os Direitos Humanos quantifica já em mais de 5000 o número de mortos desde que os combates começaram no Leste da Ucrânia, em Abril de 2014. “A significativa escalada das hostilidades desde 13 de Janeiro fez subir o número para 5086 pessoas e receamos que o número real seja consideravelmente mais alto”, disse o porta-voz da agência, Rupert Colville.

 

 

 
 

   

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