Procuradores chineses pedem pena pesada para Bo Xilai

Julgamento do antigo dirigente do Partido Comunista Chinês terminou ao fim de cinco dias. Bo negou em tribunal as acusações de corrupção e abuso de poder

Foto
Bo Xilai era até 2012 um dos principais candidatos ao comité permanente do PCC AFP/CCTV

Terminou nesta segunda-feira o julgamento de Bo Xilai, o ex-dirigente do Partido Comunista Chinês (PCC) caído em desgraça. Nas alegações finais, os procuradores pediram pena pesada para o antigo responsável por considerarem que não demonstrou qualquer remorso dos crimes de corrupção e abuso de poder de que é acusado.

O julgamento, de uma visibilidade pouco habitual na China, ficou marcado pela feroz defesa de Bo, que negou em tribunal as acusações e atacou as testemunhas arroladas pela acusação, incluindo a sua mulher Gu Kailai, cujo envolvimento no assassínio de Neil Heywood, um empresário britânico, ajudou a precipitar o seu afastamento do PCC.

“Ao longo dos últimos dias, o acusado não só negou uma grande quantidade de provas conclusivas e de factos sobre os crimes, como entrou em contradição com os testemunhos que deu antes do julgamento”, sublinhou o procurador, segundo excertos da transcrição colocados pelo tribunal no site de microblogging chinês Weibo. “As acusações são extremamente graves e ele recusou reconhecer a sua culpa. Nestas circunstâncias não há lugar para indulgência, mas para uma pena pesada, em cumprimento da lei”. 

Na sua última intervenção, o antigo dirigente reivindicou o seu direito a contestar as acusações e disse que a confissão foi escrita num momento de grande pressão, em que ainda acreditava ser possível salvar a sua carreira política.

Bo - que até ao ano passado liderava a hierarquia na metrópole de Chongqing, no Sudoeste da China e era um mais fortes candidatos a integrar o comité permanente do PCC - é acusado de receber subornos de empresários, desviar fundos destinados a projectos públicos e de abuso de poder por ter tentado esconder as suspeitas que recaíam sobre a sua mulher. Apesar de negar a autoria dos crimes, o antigo dirigente reconheceu ter cometido erros que mancharam a imagem do partido, nomeadamente pela forma como lidou com Wang Lijun, o antigo chefe da polícia de Chongqing e quem primeiro lhe contou as suspeitas que recaíam sobre a sua mulher.

Foi a fuga de Wang para o consulado dos EUA na vizinha cidade de Chengdu que viria a despertar aquele que se transformou na maior crise enfrentada pela liderança chinesa desde o massacre na Praça de Tiananmen, em 1989, desencadeada precisamente quando o PCC se preparava para renovar a sua cúpula.

Depois de entregue às autoridades, o antigo responsável da polícia denunciou Kailai como responsável pela morte do empresário britânico – alegadamente por causa de um negócio que correra mal – e implicou Bo em vários casos de suborno. Depois disso, Bo foi expulso do Politburo (o segundo mais importante centro de decisões da política chinesa, a seguir à Comissão Permanente) e mais tarde do próprio partido.

No domingo, Wang contou em tribunal que Bo o esmurrou no rosto quando ele lhe disse que a mulher era suspeita da morte de Heywood, mas o dirigente ripostou acusando o chefe da polícia de ter fugido porque mantinha uma relação com Kailai e temia a sua reacção.

A leitura da sentença não tem ainda data marcada, mas não restam dúvidas sobre a sua condenação, até porque esse é o veredicto desejado pelos dirigentes chineses que, depois do escândalo, pretendem fazer de Bo um exemplo da sua determinação para combater a corrupção no interior da hierarquia – uma das prioridades do novo Presidente, Xi Jinping. Contudo, e apesar de em teoria poder ser condenado à morte, os observadores não esperam que a pena capital seja aplicada.

Sugerir correcção
Comentar