Prisão perpétua para serial killer londrino

Stephen Port matou quatro homens depois de os drogar. A actuação da polícia está sob investigação.

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A família Taylor, à saída da leitura da sentença. Foi ela que forçou o reexame que levou à descoberta da verdade sobre as quatro mortes AFP/NIKLAS HALLE'N

Stephen Port, cozinheiro, 41 anos, marcava encontros com outros homens, gays como ele, através de aplicações como o Grindr. Depois, antes de ter sexo com eles, arranjava maneira de os drogar com GHB, conhecida também como "ecstasy líquido". Isto porque o excitava ter sexo com homens de aspecto juvenil (“twinks”), mas inconscientes. Quatro deles morreram de overdose. Outros oito sobreviveram. Apesar de Stephen actuar sempre da mesma maneira, a polícia falhou em relacionar as mortes até a família de uma das vítimas ter insistido na investigação. Há 17 agentes sob investigação. Para o assassino, prisão perpétua.

A sentença foi lida nesta sexta-feira, num tribunal de Londres. O juiz até admitiu que o criminoso poderá não ter tido intenção de matar, e apenas deixar as suas vítimas inconscientes, mas sublinhou que ele “deveria saber e prever que havia risco de morte, ainda para mais depois de haver uma primeira vítima mortal”.

Anthony Walgate, 23 anos, Jack Taylor, 25, Daniel Whitworth, 21, e Gabriel Kovari, 22, foram as quatro vítimas mortais. Depois de marcar encontro com cada um deles, e de lhes ministrar a dose fatal de GHB, o criminoso actuava sempre da mesma forma, desfazendo-se dos corpos a cerca de 500 metros da sua casa, em Barking, no Leste da capital inglesa. Dois deles foram, aliás, encontrados pela mesma pessoa, em dias diferentes, um dos quais – o de Whitworth – estava acompanhado de uma nota de suicídio, forjada, escrita pelo próprio assassino. Na carta, conta o The Guardian, lia-se que Whitworth teria tomado deliberadamente uma dose excessiva de GHB, por sentimento de culpa, depois de se ter dado conta de que teria matado Kovari com uma overdose. E para rematar a alegada nota de suicídio, uma frase que deveria ter conduzido à identificação do assassino, mas que terá escapado à polícia: “Já agora, por favor não culpem o tipo com quem estive na última noite, apenas tivemos sexo. Ele não sabe de nada do que eu fiz.”

Segundo o canal Sky News, e outras fontes noticiosas como as agências AFP e Reuters, havia muitas similitudes entre as quatro mortes – ocorridas ao longo de 15 meses. Porém, a polícia não relacionou os casos.

Durante o julgamento ficou-se a saber que Port chegou a ser detido, por obstrução à justiça, na sequência da primeira morte, em Junho de 2014. Em Agosto e Setembro desse ano fez as suas segunda e terceira vítimas. Detido em Março de 2015, por ter mentido sobre a forma como o corpo de Walgate (a primeira vítima) foi encontrado na entrada do edifício onde mora, acabaria por ser libertado em Junho. Três meses depois, em Setembro de 2015, matou outra vez, conta o Guardian.

E foi precisamente a família desta última vítima de Port que forçou as autoridades a reexaminar todos os corpos. E só aí se conseguiu detectar e relacionar as semelhanças entre os diferentes crimes e o autor. A polícia metropolitana de Londres pediu desculpa, em cartas enviadas às famílias, e uma comissão independente está a investigar se a actuação policial foi a mais correcta ou se houve “algum tipo de discriminação na actuação e nas decisões” por parte da polícia, pelo facto de envolver homossexuais, acrescenta o Guardian.

Dezassete polícias estão envolvidos neste inquérito independente, sete dos quais podem ser despedidos se ficar provado que não agiram em conformidade, diz a Sky News.

Na sequência destes casos, a polícia está a reexaminar outras 58 mortes ocorridas em anos recentes e igualmente relacionadas com o uso da droga GHB.

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