Primeiro-ministro romeno acusado de plágio na tese de doutoramento

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Victor Ponta lidera o governo social-democrata da Roménia, em funções desde Maio Lisi Niesner/Reuters

O Governo romeno está em funções há pouco mais de um mês, mas já ninguém acredita na sua capacidade de continuar o trabalho do Executivo anterior para aumentar a transparência nas universidades do país. O ministro da Educação e da Ciência demitiu-se depois de ter sido acusado de plágio em Maio. Agora, a mesma acusação recai sobre o primeiro-ministro.

O social-democrata Victor Ponta doutorou-se em 2003, na Universidade de Bucareste, com uma tese sobre o funcionamento do Tribunal Penal Internacional. Era então secretário de Estado no Governo de Adrian Nastase, que era também seu orientador no doutoramento. No ano seguinte, publicou o texto em livro e, em 2010, regressou a ele para um outro livro, sobre responsabilidade no direito internacional humanitário.

Nesta segunda-feira, a revista científica Nature revelou ter tido acesso a documentos que indiciam que mais de metade das 432 páginas da tese “consiste em texto duplicado”.

A revista escreve que há “secções substanciais de texto” que “parecem ser idênticas, ou quase”, a partes de monografias de Dumitru Diaconu e Vasile Cretu. Ambos são académicos romenos, aos quais se junta ainda um terceiro – Ion Diaconu –, que viu excertos de um artigo seu escrito em Inglês vertido directamente para romeno e incluído, sem referência à sua autoria, na tese de Victor Ponta.

“A evidência do plágio é avassaladora”, afirmou o presidente do conselho romeno para o reconhecimento dos diplomas universitários, Marius Andruh. Este químico da Universidade de Bucareste disse à Nature que, se as acusações forem confirmadas, “é necessária uma discussão séria na Roménia e no estrangeiro para prevenir que o mesmo aconteça no futuro”.

Victor Ponta diz-se disposto a responder perante uma comissão de ética e, caso esta julgue culpado, a renunciar ao grau de doutor. “Estou pronto a dar todas as explicações necessárias”, afirmou, segundo a AFP, nesta terça-feira.

“Como mencionei todos os autores na bibliografia, não se pode falar de uma intenção de fazer passar por meu o que outros fizeram.” O primeiro-ministro considera que tudo não passa de uma manobra dos seus rivais políticos, em particular do Presidente Traian Basescu e do seu conselheiro para a Educação, Daniel Funeriu.

Em poucos meses, este é o terceiro caso de um alto governante acusado de copiar nos seus trabalhos académicos. Os dois primeiros conduziram a demissões. Pál Schmitt, presidente da Hungria até 1 de Abril, não resistiu à denúncia de que o seu doutoramento em Educação Física estava manchado de plágio. Em Maio, foi a vez de Ioan Mang, acabado de nomear ministro da Educação e da Ciência da Roménia, ver a sua produção científica ser posta em causa – foi acusado de plágio em pelo menos oito trabalhos académicos. Durou uma semana no cargo.

A saída de Ioan Mang aconteceu ainda antes de o Conselho de Ética para a Investigação na Roménia se pronunciar sobre o caso, que continua a analisar. A mesma entidade deve pegar agora no caso do primeiro-ministro, cujo Governo estava já a ser alvo de críticas por estar a deixar cair algumas das medidas que estavam a ser aplicadas pelo Executivo do liberal Emil Boc, até cair em Fevereiro. Uma das suas prioridades, salientava a Nature era aumentar a transparência e a competitividade na academia romena, e que teve grande oposição no seio da comunidade científica.

“É mais do que improvável que este Governo seja capaz de criar as estruturas institucionais de que a Ciência precisa com urgência na Roménia”, observou à Nature o politólogo romeno Paul Dragos Aligica. “Como seria possível, quando alguns dos seus líderes parecem não compreender sequer remotamente, ou preocupar-se, com as exigências da boa ciência?”

Aligica, que trabalha na Universidade George Mason, nos EUA, avança ainda uma justificação para os casos de plágio na Roménia, que pode servir também para o exemplo húngaro: o politólogo diz que a elite pós-comunista que governa o país está “ansiosa” para obter o reconhecimento intelectual que o dinheiro não lhe confere. Algo que pode estar a transformar as universidades em “fábricas de graus académicos”.

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