Pressionado por Merkel e Hollande, Tsipras não abre o jogo

Reunião entre Jean-Claude Juncker e Alexis Tsipras tem plano das instituições da troika em cima da mesa, mas acordo ainda não é para já.

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Primeiro-ministro Alexis Tsipras apresentou o plano da Grécia ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker REUTERS/Francois Lenoir

Antes da sua reunião com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, já tinha sido “avisado” pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande, que o ponto de partida para a negociação de um acordo relativo à dívida e ao financiamento do Governo de Atenas teria inevitavelmente de ser o documento elaborado pelas instituições da troika – e não o plano de reformas que o líder grego apresentou em Bruxelas.

O primeiro-ministro, que antes de embarcar para Bruxelas garantiu que discutiria com Juncker “a proposta do Governo grego”, foi pressionado por Merkel e Holande, numa conferência telefónica antes da reunião (a terceira da semana) no sentido de assumir como “referência” negocial o plano elaborado pela Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu, e aproveitar os sinais que apontam para algumas cedências do lado das instituições.

Segundo o Financial Times, os credores da Grécia estarão prontos a rever em baixa o objectivo de excedente primário orçamental para este ano, que poderia ser de apenas 1%, em vez dos 3% inicialmente previstos. Uma cedência que, a confirmar-se, poderia ajudar Tsipras a convencer o seu partido e a população grega a aceitar um compromisso que inclua mais reformas nas pensões. Aparentemente, a troika também poderá estar disposta a congelar a reforma do mercado laboral, que é uma das principais exigências do FMI.

À saída do encontro de Bruxelas, que contou também com a presença do Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, Tsipras declarou que um acordo sobre os excedentes primários está "mais próximo", mas manteve que ainda há áreas sobre as quais os dois lados discordam. Se, por um lado, o primeiro-ministro grego não se mostrou impressionado pelas propostas da troika, por outro o plano de Atenas não parece ter convencido os parceiros europeus. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, declarou nesta quarta-feira ter tomado conhecimento de parte das propostas gregas, e voltou a afirmar que o que viu "não mudou em nada a sua opinião" de que um acordo nos próximos dias é pouco provável. Para Dijsselbloem, "foram registados progressos, mas não é verdadeiramente suficiente."

O tempo para encontrar uma solução é cada vez mais curto. Apesar de todas as partes se recusarem a falar em ultimato - e Atenas insistir que não aceitará nenhum - é claro que não sobra grande espaço de manobra para arrastar as negociações.  Na sexta-feira, a Grécia tem de pagar mais 300 milhões de euros ao FMI, e o porta-voz da bancada parlamentar do Syriza, Nikos Filis, já avisou que “se não existirem perspectivas de um acordo até sexta ou segunda-feira” não é certo que o pagamento se faça. As consequências desse falhanço são imprevisíveis, e podem em último caso precipitar a saída da Grécia do euro.

O Governo grego precisa por isso urgentemente de chegar a um acordo com as instituições, que permita aos ministros das Finanças da zona euro libertar os 7200 milhões de euros que o país ainda pode receber do seu programa de resgate. Dijsselbloem tem repetido que o Eurogrupo está pronto a reunir-se a qualquer momento, assim que as instituições dêem luz verde ao programa de reformas grego. Por esta altura, o cenário mais optimista é o de ter um acordo entre a Grécia e as instituições na próxima semana, que possa ser levado ao próximo encontro do Eurogrupo, marcado para dia 18 de Junho.

De Atenas veio um novo sinal de que o executivo não está disposto a tudo para fechar o acordo, com a opção de ir novamente a eleições a ser apontada pelo secretário de Estado da Segurança Social, Dimitris Stratoulis: "Se o acordo for mau para o Governo, o povo e o país, nem sequer será submetido ao Parlamento… haverá eleições".

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