Poroshenko ordena a abertura de corredores humanitários no Leste da Ucrânia
Governo "recebeu instruções para criar condições para quem quiser sair".
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, ordenou a criação de corredores humanitários para civis poderem deixar as zonas do Leste da Ucrânia onde violentos combates que opõem forças governamentais de Kiev e milícias separatistas pró-Rússia já fizeram mais de 200 mortos.
O Governo recebeu instruções para criar “todas as condições para os que queiram sair”. Embora não tenha especificado se seria possível passar para a Rússia ou apenas para o interior da Ucrânia, esta medida foi interpretada como sendo uma resposta a uma das principais reivindicações de Moscovo.
A Rússia tem vindo a martelar na tecla humanitária e pedia ainda acesso aos locais do Leste onde há combates para enviar ajuda – este não foi concedido, porque Kiev teme que Moscovo possa usar esta janela para armar os rebeldes.
O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no fim-de-semana que iria reforçar os controlos fronteiriços para evitar passagens ilegais, no que foi lido como um gesto de boa vontade para com o novo líder da Ucrânia. Esta medida era pedida por vários líderes ocidentais, como o Presidente norte-americano, Barack Obama, para acabar com a passagem de armas e combatentes russos para o Leste da Ucrânia.
No seu discurso de tomada de posse, Poroshenko afirmou que daria uma hipótese de saída segura aos russos que combatessem no Leste da Ucrânia e que não tivessem “sangue nas mãos”. Esta terça-feira, o seu gabinete esclareceu que “para evitar novas vítimas na zona da operação anti-terrorista, o Presidente ordenou aos ministros responsáveis que criem todas as condições para os civis que queiram sair.”
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, saudou a criação dos corredores humanitários.
O gabinete do Presidente anunciou ainda que estavam a ser previstos transportes, comida, e material médico para os responsáveis locais lidarem com a deslocação de pessoas do Leste para outros locais da Ucrânia.
Todos os dias, cada vez mais habitantes das províncias separatistas de Donetsk e Lugansk, na região do Donbass, tentam esconder-se em caves ou escapar de comboio à violência dos bombardeamentos das forças ucranianas e da violência das várias milícias – tanto as pró-russas (e há ainda relatos de russos a combater ao seu lado) como as autorizadas por Kiev para colmatar as fraquezas do seu exército regular.
"Pensa-se que mais de 15.000 pessoas já fugiram de Slaviansk, uma cidade que tem uma população de pouco menos de 130.000 habitantes. (…) Mas, apesar dos esforços das organizações não-governamentais, a falta de informação e de apoio do Governo [ucraniano] aos que querem sair significa que muitos mais permanecem no interior da cidade – pobres de mais, com medo, ou simplesmente sem vontade de deixar para trás uma vida inteira. Para os que ficaram, a vida diária é uma luta constante e crescente", escreveu no site Vice News a jornalista Harriet Salem, que está no Leste da Ucrânia e escreve também para o The Guardian, o Financial Times ou a revista Foreign Policy. No Leste da Ucrânia há "uma crise humanitária relatada de forma insuficiente".
Este parece ser o primeiro passo concreto de Poroshenko, que na tomada de posse disse querer a paz com a Rússia mas estabeleceu linhas vermelhas – a Ucrânia vai continuar a sua aproximação à União Europeia e não vai reconhecer a anexação da Crimeia pela Rússia.
No domingo, Petro Poroshenko anunciou a intenção de pôr fim aos combates até ao fim desta semana, mas não avançou de que forma. Lavrov repetiu ainda na terça-feira que o fim das operações militares do Exército ucraniano no Leste são essenciais para a resolução do conflito.
No entanto, cada vez mais há temores que independentemente da boa vontade dos dois lados, o conflito continue alimentado por milícias quer do pado pró-russo quer do lado pró-governo.
Enquanto isso, representantes da Rússia e da Ucrânia continuaram esta terça-feira conversações com a UE sobre um acordo de fornecimento de gás depois de, na noite anterior, uma reunião ter acabado sem acordo.