Presidente turco assegura que bloqueio do Twitter será levantado em breve

Abdullah Gül repete críticas à decisão do Governo, que os internautas turcos estão a conseguir contornar.

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Protesto em Ancara contra o bloqueio do Twitter REUTERS

O Presidente turco assegura que o bloqueio imposto pelo Governo ao Twitter, em retaliação por uma catadupa de revelações comprometedoras para o círculo do primeiro-ministro, será levantado em breve. Esta é a segunda vez que Abdullah Gül se distancia da decisão, que desencadeou um coro de críticas dentro e fora do país.

“Não é legalmente possível encerrar a Internet e este tipo de sites. Penso que o problema vai ser resolvido em breve”, disse Gül aos jornalistas em Ancara, antes de partir para a Holanda, onde, segunda-feira, vai participar na cimeira internacional sobre segurança nuclear.

Sexta-feira de manhã, horas depois de a rede de microblogging ter sido bloqueada na Turquia, o Presidente usava a sua conta pessoal para denunciar a “inaceitável” decisão do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan. “Espero que esta ordem não dure”, escreveu Gül, que já foi um dos grandes aliados do chefe de Governo – é co-fundador do AKP, o partido no poder desde 2002 – mas que não esconde agora que discorda da radicalização seguida por Erdogan.

Uma posição que reafirmou neste domingo, ao lembrar que a censura ao Twitter “é evidentemente uma situação desagradável para um país desenvolvido como a Turquia, que é um actor regional de peso, e está em negociações com a União Europeia”. “Por essa razão, espero que o problema seja rapidamente ultrapassado”, repetiu.

O Governo turco justificou o bloqueio acusando os responsáveis da rede social de se negarem a remover contas e conteúdos que os tribunais turcos classificaram como sendo prejudiciais aos interesses do país. “O Twitter tem sido usado como um meio para promover sistemáticos assassínios de carácter, através da circulação de gravações obtidas ilegalmente, e de registos de espionagem falsos e fabricados”, lia-se num comunicado do Governo turco emitido no sábado.

Em causa, estão as dezenas de gravações que desde Fevereiro têm sido publicadas, a um ritmo semanal, através do Twitter e do YouTube. Várias delas incluem uma voz identificada como sendo a de Erdogan, em conversas comprometedoras com familiares, colaboradores ou empresários. Numa delas, a primeira a ser divulgada, o primeiro-ministro instruía o filho, Bilal, a “fazer desaparecer” dezenas de milhões de dólares guardados em várias casas da família – a suposta escuta teria sido feita no mesmo dia em que a polícia prendia dezenas de figuras ligadas ao AKP no âmbito de uma megainvestigação por corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas há outros registos igualmente embaraçosos, recorda o jornal francês Le Monde, lembrando que numa das conversas é possível ouvir a voz que se pensa ser do primeiro-ministro a instruir o empresário a quem o Governo adjudicou a construção de navios militares para manipular o preço da oferta pública. A mais recente, sugere que aviões da Turkish Airlines estão a transportar ilegalmente armas para a Nigéria.

Incapaz de travar a onda de revelações, Erdogan – que atribuiu todas as suspeitas a conspirações para o derrubar – avisou que iria “erradicar o Twitter”, garantindo que “pouco se importar com as reacções da comunidade internacional”. O que o Governo não contava é que, tão rápido como o Twitter foi bloqueado, os utilizadores da rede social (só na Turquia serão mais de doze milhões) conseguiriam contornar a proibição, acedendo à rede social através de serviços de DNS alternativos.

Para que a interdição seja levantada, Ancara exigiu que o Twitter nomeie um responsável cujo único trabalho será “cumprir as ordens dos tribunais”. Num sinal de que um compromisso estará a ser trabalhado, Gül anunciou que a rede social nomeou um advogado para negociar com as autoridades turcas. “O Twitter não tem representantes na Turquia. Tem de haver bons circuitos de comunicação com estas empresas gigantes”.

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