Presidente interino do Egipto apela ao fim da "produção de tiranos" no país

Adly Mansour é também o novo presidente do Tribunal Constitucional. No discurso de tomada de posse, disse que a convocação de novas eleições é "o único caminho para um futuro melhor".

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O novo líder egípcio incentivou os protestos GIANLUIGI GUERCIA/AFP

O presidente do Tribunal Constitucional do Egipto, Adly Mansour, já tomou posse como líder interino do país, depois de Mohamed Morsi ter sido deposto pelo Exército e colocado em prisão domiciliária.

"Juro preservar o sistema da república, respeitar a Constituição e a lei e defender os interesses do povo", declarou Mansour.

O Presidente interino do Egipto disse que chegou a hora de "parar a produção de tiranos" no país e declarou o fim do "culto do soberano", afirmando que a convocação de novas eleições é "o único caminho para um futuro melhor".

O discurso de tomada de posse foi muito aplaudido, principalmente quando Adly Mansour descreveu o Exército como "a consciência da nação e o garante da sua protecção e segurança". Mansour elogiou também a polícia, os media e o sistema judicial, e incentivou o povo egípcio a continuar a manifestar-se.

Mohamed Morsi – o primeiro líder egípcio eleito – foi colocado em prisão domiciliária, acusado de não ter conseguido responder às exigências do povo. Os manifestantes acusam Morsi e a Irmandade Muçulmana de lançarem um processo de islamização no país e de não conseguirem resolver os problemas económicos.

A mais recente vaga de protestos no Egipto, que começou no domingo, já fez cinco dezenas de mortos.

Adly Mansour foi nomeado presidente do Supremo Tribunal precisamente no domingo, cargo que vai agora acumular com o de Presidente interino do país.

Mansour, o funcionário simpático e conciliador
Adly Mansour é uma figura pouco conhecida e sem passado político. Durante duas décadas foi vice-presidente do Tribunal Constitucional, e apenas chegou ao topo da mais alta instância judicial no domingo passado, uma semana depois de o anterior presidente se ter reformado, e no dia em que começou a mais recente vaga de protestos no país.

Agora, aos 67 anos de idade, vê-se como protagonista do processo que irá definir o futuro do Egipto, mas os media e as organizações da sociedade civil apostam que não será mais do que um líder de transição. Negad El Borai, advogado e defensor dos direitos humanos, descreve Mansour como alguém "supérfluo", um "presidente honorário". "É apenas um funcionário", resume o advogado, citado pelo The New York Times. Negad El Borai considera que os verdadeiros líderes do país serão os militares.

"Ele vem de um órgão que trabalha de forma colegial", nota Nathan J. Broen, professor de Ciência Política e de Relações Internacionais na Universidade George Washington. "Devido ao seu passado, à sua experiência, inclinação e posição, vê-se como alguém que deve fazer tudo o que é preciso para assegurar que o processo político siga em frente e que o Estado egípcio funcione", estima.

O professor universitário, especialista no sistema judicial egípcio, falou com Adly Mansour em várias ocasiões. Descreve-o como uma pessoa "simpática e agradável, mas muito reservada", que no exercício das suas funções no Tribunal Constitucional tende a ser "conciliador e avesso a confrontações".

"Ele não fará mudanças importantes, nem tentará governar de uma forma activa ou dizer ao executivo o que fazer. Se viram a fotografia oficial dele, é assim que ele é. Sorriso agradável, boca fechada", conclui Nathan J. Broen.
 
 
 

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