Centro-direita já tem o seu candidato à sucessão de Durão Barroso

Jucker obteve cerca de 60% dos votos do PPE, menos do que era esperado.

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Juncker assumiu-se como candidato à sucessão de Durão Barroso PETER MUHLY/AFP

Foram os socialistas que subiram a parada ao escolher um candidato à presidência da Comissão Europeia para apresentar às eleições europeias de Maio, mas foram os partidos do centro-direita do Partido Popular Europeu (PPE) que levaram o desafio a sério com um verdadeiro processo de selecção interna.

Os 73 partidos de 39 países que integram o PPE — que incluem o PSD e o CDS/PP — decidiram-se finalmente nesta sexta-feira, durante um congresso em Dublin, pela escolha de Jean-Claude Juncker, ex-primeiro-ministro do Luxemburgo durante 18 anos, europeísta convicto e, até Dezembro passado, o veterano absoluto dos líderes europeus.

Jean-Claude Juncker, de 59 anos, obteve 382 votos contra 245 do seu adversário, o francês Michel Barnier, actual comissário europeu, cujos quase 40% de apoios deixam claro que o luxemburguês não é assim tão idolatrado dentro do PPE como muitos pensavam.

“O PPE deu uma prova clara de democracia (...) mas agora não temos tempo a perder para a campanha (...) para as eleições que vamos ganhar com Jean-Claude Juncker”, afirmou Michel Barnier aos congressistas depois de conhecido o resultado.

“Estamos em condições de arrancar a campanha eleitoral. Temos muito atraso face aos socialistas, que viajam, debatem e mostram-se por todo o lado desde há seis meses”, avisou por seu lado Juncker.

Os partidos socialistas europeus confirmaram há uma semana, igualmente em congresso, o seu candidato, o alemão Martin Schulz, actual presidente do Parlamento Europeu, que se apresentou em Novembro e obteve um resultado “soviético” de 91% dos votos.

Com este processo de escolha, os candidatos das duas maiores famílias políticas da União Europeia são, à partida, os melhor colocados para aceder à presidência da Comissão Europeia (CE), em substituição de Durão Barroso, que termina o mandato a 31 de Outubro. Nenhum dos dois tem, no entanto, qualquer garantia de que assim será.

O problema está em que a ideia de designar candidatos à presidência da CE constitui uma prova de força do Parlamento Europeu face aos governos dos 28: uma boa parte dos eurodeputados considera que a partir do momento em que têm o poder de votar a investidura do presidente da Comissão, também deverão ter o direito de escolher o candidato. Por maioria de razão, a ideia de apresentarem ao eleitorado os seus candidatos ao posto, as grandes famílias políticas europeias esperam combater a abstenção, que se anuncia catastrófica.

A tese do Parlamento Europeu constitui, no entanto, uma interpretação abusiva do Tratado da UE, que atribui aos governos o poder, de que estes recusam abdicar, de escolher o presidente da Comissão, estando apenas obrigados a ter em conta o resultado das eleições, o que significa que o sucessor de Barroso deverá ser originário da família mais votada.

É por esta razão que a escolha efectiva do novo presidente se vai manter uma incógnita até às eleições, que, ao contrário do que aconteceu nos escrutínios anteriores, poderão resultar numa ligeira vitória dos socialistas.

A especulação abunda, aliás, sobre uma possível preferência de Juncker, mesmo num cenário de vitória do PPE, por um outro cargo que ficará igualmente vago no fim do ano, o de presidente do Conselho Europeu (as cimeiras europeias).

O luxemburguês procurou em Dublin afastar quaisquer dúvidas sobre as suas intenções. “Quero ser presidente da Comissão”, afirmou, frisando que “os eleitores têm de ser levados a sério, a política não é um jogo”.

“Se ganharmos as eleições, e vamos ganhá-las, é o nosso candidato que se instalará à frente da Comissão e mais ninguém”, garantiu igualmente Joseph Daul, o presidente do PPE.

Tanto Jean-Claude Juncker como Schulz contam agora visitar muitos dos 28 países da UE para apoiar os partidos locais durante a campanha para as europeias e mesmo realizar alguns debates.

Na campanha eleitoral, defendeu Juncker, vai ser preciso falar da “verdadeira Europa, tal como ela é e tal como foi pensada desde a Segunda Guerra Mundial” pelos líderes de então, “regressados dos campos de batalha e de concentração”. “É desta Europa que devemos falar, da Europa que não funciona, mas também da Europa que é capaz de tanto quando estamos unidos”, defendeu.

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