PP aposta em García Albiol para “recuperar ilusão e confiança” dos catalães

Ex-autarca de Badalona e antigo basquetebolista fez carreira política com um discurso de combate à imigração, que já o levou a ser acusado de crimes de incitamento ao ódio.

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Foi sob a liderança de Sánchez-Camacho que os conservadores obtiveram os seus melhores resultados de sempre na região Josep Lago/AFP

O protagonismo da campanha do Partido Popular para as eleições antecipadas da Catalunha foi entregue ao autarca e antigo basquetebolista Xavier García Albiol, que há dois meses foi o candidato com mais votos no município de Badalona, mas não tomou posse para um novo mandato pela coligação das forças de esquerda. O ex-autarca tornou-se, esta terça-feira, o cabeça-de-lista dos conservadores e candidato à presidência da Generalitat (governo regional), em lugar da líder do partido na Catalunha, Alicia Sánchez-Camacho, que alegou “desgaste” para se afastar da corrida.

A dois meses das eleições, o panorama é negro para os Populares na Catalunha: o partido praticamente desapareceu do mapa eleitoral nas autárquicas de 24 de Maio e surge agora no fundo das sondagens relativas às intenções de voto para a Generalitat, com apenas nove assentos parlamentares, correspondentes a cerca de 7% de votos, de acordo com as previsões de Julho do Observatório Continuo para o jornal espanhol Público.

A García Albiol cabe a tarefa de “recuperar a ilusão e a confiança” dos catalães no Partido Popular, nas palavras da própria Sánchez-Camacho. A líder desmentiu notícias que a davam como “cansada” e “farta” para explicar a sua decisão de se manter à margem da votação. “Estou em plena forma. É com responsabilidade e generosidade que dou um passo para trás”, justificou.

Foi sob a liderança de Sánchez-Camacho que os conservadores obtiveram os seus melhores resultados de sempre na região, em 2012, com 13% dos votos e 19 lugares no Parlamento. Mas com o avanço da causa soberanista, os populares têm experimentado uma queda acentuada nas urnas: nas últimas municipais, perderam mais de 130 mil votos e cerca de 50% dos seus conselheiros. E só conseguiram manter uma das sete câmaras que controlavam na Catalunha.

A escolha de García Albiol, de 47 anos, para cabeça-de-lista, terá sido sancionada pessoalmente pelo presidente do PP e do Governo de Espanha, Mariano Rajoy. No catastrófico cenário pós-eleitoral de Maio, Rajoy precisava de encontrar um vencedor para enfrentar os independentistas: o popular ex-basquetebolista, ainda que a sua vitória tenha sido de Pirro. Nas autárquicas, apesar de ter melhorado o seu anterior resultado e conquistado o dobro dos votos do seu concorrente directo, Albiol não conseguiu assegurar uma maioria. A sua proposta de aliança política estável para travar os independentistas foi rejeitada pelos socialistas, que preferiram embarcar no projecto de coligação das forças de esquerda. “Um pacto de perdedores”, que denunciou como um “golpe”.

O candidato de dois metros de altura, que jogou no Joventut, milita na ala mais radical do PP, ao qual aderiu em 1989. Logo em 1990 foi eleito conselheiro do município de Badalona, a sua cidade natal e terceiro maior centro urbano da Catalunha. Aliás, assegurou a presidência do PP de Badalona entre 1990 e 96, e de novo a partir de 2001 até agora. Em 2011 foi eleito alcalde da cidade, com uma maioria simples e uma plataforma política de combate à imigração.

Na última campanha, o seu slogan político “Limpar Badalona” voltou a gerar polémica e suscitar queixas sobre as posições alegadamente racistas e os comentários xenófobos contra os imigrantes. Em 2010, García Albiol foi mesmo acusado dos crimes de incitamento ao ódio e discriminação – dos quais foi posteriormente absolvido – por imputar o aumento da insegurança e criminalidade à presença de ciganos romenos nas ruas de Badalona. “São uma praga que veio exclusivamente para cometer delitos e causar estragos”, considerou.

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