Possível aproximação entre Vaticano e Pequim é traição a Cristo, diz cardeal de Hong Kong

Bispo emérito de Hong Kong, crítico do regime, diz que o Papa pode estar a ser “ingénuo”.

Foto
Joseph Zen, em 2008 AFP/MIKE CLARKE

Com mais de seis décadas de tensão entre a China e a Santa Sé, uma aproximação entre as duas partes significaria “trair Jesus Cristo”, considera o cardeal Joseph Zen-Kiun, bispo emérito de Hong Kong.

Crítico de um processo que culmine na normalização das relações entre o Vaticano e Pequim, Joseph Zen, apoiante dos movimentos pró-democracia na China, aparece entre os que, na comunidade católica chinesa, receiam que o Papa Francisco ceda perante o regime. Se assim for, diz, assistir-se-ia a “uma rendição”.

Na China, a Santa Sé não reconhece a hierarquia da Associação Católica Patriótica (ACP), controlada pelo regime, e que nomeia os bispos no país. “Talvez o Papa seja um pouco ingénuo, não tem o background [necessário] para conhecer os comunistas na China”, aponta Zen, citado pelo Guardian a partir de Hong Kong e Pequim.

Ao diário britânico, também Francesco Sisci, jornalista e especialista das relações entre a República Popular da China e a Santa Sé a viver em Pequim, admitiu a possibilidade de que um “acordo muito amplo” seja alcançado, mas não é claro neste momento o que isso significa.

Numa entrevista a Sisci publicada em Fevereiro, o Papa Francisco aconselhava a não se temer a ascensão da China, sublinhando ao Asia Times que “os homens e as civilizações tendem a comunicar”. E exemplificava: “O mundo ocidental, o Oriente e a China, todos têm a capacidade e a força de manter o equilíbrio da paz”.

Para Zen, de 84 anos, “não se pode negociar com a mentalidade de que ‘queremos assinar um acordo a todo o custo’, e depois estamos a render-nos perante nós próprios, a trair-nos a nós próprios, a trair Jesus Cristo”.

 “O Papa costumava conhecer os comunistas perseguidos [na América Latina], mas talvez não conheça os comunistas que mataram centenas de milhares”.

Conhecido pela oposição às tentativas de limitar o papel da Igreja em Hong Kong, Zen esteve ao lado do movimento pró-democracia “Occupy Central” e, por altura das manifestações de 2014, chegou a considerar que poderia assistir-se em Hong Kong a uma repetição de Tiananmen.

Segundo o Ecclesia, Zen foi ordenado sacerdote em 1961 e, entre 1978 a 1983, foi superior provincial dos salesianos para Hong Kong, Taiwan e Macau. Em 2002, foi ordenado bispo de Hong Kong, onde se faz ouvir como voz crítica das medidas antissubversão propostas por Pequim para aquela região administrativa especial.

Sugerir correcção
Comentar