Portugal e a encruzilhada europeia

Em Portugal, depois dos anos difíceis, a saída da crise é apenas aparente e depende, em grande medida, daquilo que a Europa for capaz de fazer para relançar o crescimento.

A Europa está numa encruzilhada e arrisca hipotecar as conquistas de qualidade de vida e sociais alcançadas ao longo dos últimos 50 anos.

Em causa, como muito bem salientou o cientista político norte-americano, George Friedman, numa entrevista recente dada a um jornal semanário português, está o facto de o modelo europeu ter sido construído na premissa da existência de prosperidade económica. Sem ela, não há hipótese de prosseguir este caminho.

Estranho que os líderes europeus, em particular alemães e franceses (já que os ingleses estão mais preocupados com a sua insularidade), sabendo desta premissa continuem a pressionar as políticas no sentido da austeridade.

Todos sabemos que nenhuma organização, incluindo países, sobrevive ao permanente corte de custos para fazer face a quebras nas receitas. Vale a pena recordar a famosa metáfora da “espiral recessiva” trazida por Cavaco Silva numa altura particularmente crítica do percurso deste governo que está agora a terminar o seu mandato.

A proximidade eleitoral revela, aliás, o problema gerado por ciclos eleitorais de curto prazo e a ausência de magistraturas de influência que promovam políticas de médio longo prazo, capazes de perdurarem para além desses mesmos ciclos. A crise e a austeridade, ou o fim delas, não se decretam por lei, apesar da tentação eleitoralista.

De facto, a realidade é sempre muito mais dura do que aquilo que a propaganda nos possa querer convencer. É que em Portugal, depois dos anos difíceis, a saída da crise é apenas aparente e depende, em grande medida, daquilo que a Europa for capaz de fazer para relançar o crescimento. Continuar a cortar os custos, como insistem com a Grécia, poderá prolongar-nos na asneira de que seremos capazes de pagar mais dívida com menor riqueza.

Ora bem, se a Europa quer retomar o seu caminho do modelo económico e social, que é ímpar à escala global, os Governos, sobretudo o alemão e o francês, terão de ser capazes de operar uma mudança fundamental. A de perspetivarem políticas capazes de incentivar e nortear o investimento público e privado em torno das modernas metodologias da gestão científica, orientados para a criação de riqueza e sustentadas pelos respetivos business cases.

O objetivo de criar riqueza por oposição ao modelo baseado na austeridade traduz, na sua essência, o fracasso evidente das políticas europeias da última década (sim, esta crise dura há já quase 10 anos). É por isso, que, olhando para a Grécia, podemos projetar Portugal. Mas, pior, é que olhando para Portugal, poderemos estar a projetar o futuro da europa.

A crise europeia resulta da ausência de uma política concertada de criação de riqueza. A realidade mostrou que o Tratado de Lisboa não era solução e a Europa foi incapaz de voltar a desenhar um novo Tratado. Impõe-se, então, um novo compromisso entre os Estados membros para o desenvolvimento e o crescimento, capaz de atenuar e resolver o problema cíclico das dívidas soberanas.

CEO Winning Consulting

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