Atirador era um dinamarquês de 22 anos inspirado pelos ataques de Paris

Jovem matou um homem num debate organizado por cartoonista que desenhou Maomé e outro numa sinagoga, antes de ser abatido pela polícia.

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Os alvos do atentado levaram a comparações imediatas entre o sucedido em Copenhaga e os ataques de Paris Hannibal Hanschke/Reuters
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O pesadelo que Paris viveu em Janeiro começou na manhã de dia 7 e só acabou quando os três suspeitos de vários ataques que fizeram 17 mortos foram abatidos pela polícia, no final do dia 9. O de Copenhaga teve início com 30 disparos contra um centro cultural onde decorria um debate sobre “Arte, blasfémia e liberdade”, que era também uma homenagem às vítimas do Charlie Hebdo: 14 horas depois, na madrugada de domingo, a polícia anunciava ter morto a tiro o suspeito atacante.

No debate, organizado pelo sueco Lars Vilks, ameaçado desde que em 2007 assinou uma série de cartoons onde Maomé surgia com cabeça de cão, foi morto um documentarista que estava na assistência. Ao início da madrugada, o mesmo suspeito atacou a principal sinagoga da cidade onde decorria uma cerimónia.

“Estamos a trabalhar a partir da hipótese de que esta pessoa tenha sido inspirada pelos acontecimentos no Charlie Hebdo, em Paris”, o jornal satírico que foi o alvo principal dos atentados de Janeiro, afirmou Jens Madsen, chefe dos serviços secretos dinamarqueses. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, também sublinhou “o mimetismo da sequência dinamarquesa com os atentados em Paris: “Primeiro, um ataque contra o símbolo da liberdade de expressão, depois um ataque contra judeus, em seguida o confronto com a polícia”.

O suspeito atacante foi morto depois de ter disparado contra os agentes, alertados para um apartamento perto da estação de comboios de Norrebro, um bairro multicultural dos subúrbios. Foi a descrição de um taxista que terá transportado o atirador depois do primeiro ataque a conduzir a polícia ao local. As autoridades divulgaram que o atirador era dinamarquês de 22 anos conhecido por actos de violência, ligações a gangs e posse de armas, mas não divulgaram o seu nome.

Segundo o jornal Ekstra Bladet, trata-se de Omar el-Hussein, que tinha saído da prisão há duas semanas, depois de cumprir pena por apunhalar um jovem de 19 anos. Hussein faria parte de um gang conhecido como Brothas, que actua precisamente no bairro popular de Norrebro. As autoridades tinham inicialmente admitindo que o atacante tivesse sido influenciado “pela propaganda islamista do Estado Islâmico e de outros grupos terroristas”.

A Dinamarca é actualmente um dos países de onde mais jovens saem para combater ao lado de jihadistas no Iraque e na Síria.

No café do centro cultural onde decorria o debate de sábado à tarde – alvo de vigilância especial pela presença de Vilks –, foi morto Finn Norgaard, um realizador de 55 anos. Três polícias ficaram feridos. Na sinagoga de Copenhaga, quando um homem chegou e começou a disparar, foi morto Dan Uzan, um membro da comunidade que estava de guarda ao local onde se realizava uma cerimónia de confirmação.

Tal como aconteceu a seguir a Paris, quando um cúmplice dos irmãos que atacaram o jornal satírico Charlie Hebdo fez quatro mortos numa mercearia judaica, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, voltou a convidar os judeus da Europa a irem para Israel. “Israel é a vossa casa”, disse, em Jerusalém. “Apreciamos o convite, mas somos dinamarqueses, este é o nosso país”, respondeu Dan Rosenber Asmussen, presidente da Associação Judaica da Dinamarca.

Há uma década que a Dinamarca temia, e esperava, um ataque deste tipo: Desde que o jornal Jyllands Posten publicou 12 cartoons com o Profeta, incluindo um onde o turbante de Maomé estava transformado numa bomba, em Setembro de 2005. Na altura, a publicação desencadeou protestos que fizeram pelo menos 50 mortos em vários países muçulmanos, houve ataques contra embaixadas dinamarquesas e boicotes aos produtos de algumas das suas empresas.

Tal como Charb (Stéphane Charbonnier), director do Charlie Hebdo, Vilks figurava numa lista antiga da Al-Qaeda de “alvos a abater”. O mesmo acontece com Kurt Westergaard, o autor do cartoon do turbante. “A pequena audiência experimentou medo e horror – e tragédia”, escreveu no seu blogue Vilks, que já foi alvo de ataques e conspirações para o matar.

“Enquanto nação, vivemos uma série de horas que nunca vamos esquecer”, afirmou a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt. “Provámos o sabor horrível do medo e da impotência provocado pelo terror. Mas também respondemos, como uma nação.”

Ao longo do dia, milhares de dinamarqueses foram até à sinagoga da capital deixar ramos de flores. “Somos um país pequeno e estas coisas não acontecem aqui”, disse à Reuters o estudante Frederikke Baastrup.

“Vamos fazer todos os possíveis para proteger a nossa comunidade judaica”, disse ainda a chefe do Governo. Mas Thorning-Schmidt sublinhou que os desafios que o seu país enfrenta não têm como responsável o islão. “Esta não é uma batalha entre o islão e o ocidente, nem uma batalha entre muçulmanos enão muçulmanos, é uma batalha entre os valores da liberdade dos indivíduos e uma ideologia obscura.”

 
 

   


 

   

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