Obama: os Estados Unidos recusam ser aterrorizados

O FBI admite estar à procura de ligações terroristas às explosões de segunda-feira. As investigações vão passar a uma "escala global". Foram usadas bombas artesanais, carregadas de estilhaços de metal, que obrigaram a muitas amputações. Um dos três mortos era um rapaz de oito anos. Boston reforçou a segurança, mas a cidade vai manter-se aberta. Barack Obama prometeu encontrar e punir os responsáveis.

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A rua onde aconteceram as explosões foi fechada Spencer Platt/Getty Images/AFP
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Boylston Street ficou com escombros espalhados na zona de impacto Jessica Rinaldi/Reuters
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Militares foram deslocados para a Baixa de Boston Scott Eisen/Reuters
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Militar aguarda dentro de um autocarro por instruções do comando Shannon Stapleton
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Vigilância apertada após as explosões Dominick Reuter/Reuters
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Baixa de Boston ficou dominada por polícias e agentes de forças especiais locais e federais Dominick Reuter/Reuters
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Cenário de caos na zona onde se encontrava a meta da maratona Stuart Cahill/Boston Herald/MCT
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Suspeito detido num parque da cidade Eric Twardzik
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Governador do Massachusetts, FBI, polícia local e procuradora no momento em que esclarecem o que está a ser feito Darren McCollester/Getty Images/AFP

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, insistiu que as autoridades do seu país vão encontrar os responsáveis pelos actos terroristas em Boston e prometeu justiça para as vítimas das explosões junto à meta da maratona da cidade.

“Saibam isto: os cidadãos americanos recusam ser aterrorizados”, declarou na tarde desta terça-feira, desafiando os autores do ataque.

Obama fez uma curta declaração ao país depois de reunir com os responsáveis pelas investigações. As suas primeiras palavras foram de conforto para as vítimas e de respeito para todos aqueles que se comportaram com “heroísmo” perante circunstâncias inimagináveis. “Os maratonistas que continuaram a correr até aos hospitais para dar sangue, as pessoas que rasgaram as suas roupas para fazer torniquetes e assistir os feridos”, enumerou.

Depois, o Presidente salientou que a investigação está em curso e pediu a colaboração para os esforços das autoridades.

“Para já o que sabemos é que foram detonadas duas bombas e que dessas explosões resultaram danos muito consideráveis. Mas não sabemos quem são os responsáveis, se foi o acto de uma organização terrorista, doméstica ou internacional, ou se foi obra de um ou mais indivíduos perturbados. E também não sabemos as razões que estão por detrás destes actos terroristas”, resumiu Barack Obama.

Investigação à escala global
Depois de socorrer as vítimas, a polícia norte-americana procura agora os responsáveis pelas duas explosões junto à linha da meta da maratona de Boston, que na segunda-feira provocaram três mortos e pelo menos 176 feridos, dos quais 17 em estado crítico, segundo o balanço feito nesta terça-feira . O FBI admite estar à procura de ligações terroristas, e já chamou a CIA a participar na investigação.

"Não há ameaças adicionais conhecidas" em Boston, afirmou Richard DesLauriers, agente especial do FBI, a polícia federal norte-americana, na mais recente conferência de imprensa sobre o ataque de segunda-feira. 

DesLauriers confirmou que não foram encontrados mais engenhos explosivos, além dos dois que explodiram, uma informação repetida pelo governador de Massachusetts, Deval Patrick. "É importante clarificar que dois, e apenas dois, engenhos explosivos foram encontrados ontem [segunda-feira]". As primeiras informações davam conta que outros engenhos tinham sido encontrados pela cidade, um dado agora desmentido pelas autoridades.

O agente sublinhou que o FBI não recebeu qualquer informação sobre possíveis ameaças antes da maratona, reforçando que não foi detectada, entretanto, "qualquer ameaça iminente". As investigações não vão ser apenas internas, "vão ser a uma escala global", anunciou Richard DesLauriers. "Vamos até ao fim do mundo para identificar quem é ou são os responsáveis por este crime", garantiu.

Taliban dizem não estar envolvidos
Até ao momento, nenhum indivíduo ou organização reivindicou a autoria do ataque. As fontes citadas pelas agências internacionais dizem que os investigadores estão a trabalhar com base em duas teorias: de que o ataque poderá ter partido de grupos de extrema-direita que se têm revelado particularmente activos em protestos contra o pagamento de impostos ou a intervenção do Governo federal; ou então poderá ter sido levado a cabo por militantes islamistas com acesso aos manuais de fabrico de bombas disponibilizados por organizações como a Al-Qaeda para a Península Árabe.

O porta-voz dos taliban do Paquistão, Ahsanullah Ahsan, garantiu que a sua organização não teve qualquer envolvimento com as explosões durante a maratona de Boston. Os taliban ameaçam frequentemente retaliar contra os Estados Unidos por causa do seu apoio ao Governo de Islamabad. Mas num telefonema com a Associated Press, a partir de um local não identificado, aquele dirigente quis deixar claro que os taliban não tiveram nenhuma responsabilidade nem participaram no ataque de segunda-feira.

Também a Irmandade Muçulmana do Egipto fez questão de se demarcar dos acontecimentos de Boston: num comunicado divulgado esta terça-feira, a Irmandade condenou o atentado e endossou condolências às famílias das vítimas e aos Estados Unidos. Sublinhando que a lei islâmica “rejeita firmemente qualquer ataque contra civis, não aceita que se aterrorizem pessoas com base na religião, raça ou género”, os membros da Irmandade Muçulmana manifestaram a sua “solidariedade” com os esforços da comunidade internacional para garantir que estes crimes “nunca mais se repitam”.

FBI sem suspeitas
O comissário da polícia de Boston confirmou, por sua vez, que ninguém ficou detido desde o início das investigações. Apesar de ter sido feita inicialmente uma detenção pela polícia local, o FBI continua sem suspeitos nem pistas relativamente à origem e motivações do ataque.

Esta manhã, o FBI tinha afirmado que decorre “uma investigação criminal que é uma investigação a um potencial acto terrorista”. A segurança será reforçada em Boston durante o dia, mas a cidade vai estar “aberta” e a “funcionar”, garantiu o governador do Massachusetts. No entanto, a área envolvente ao local das explosões permanecerá vedada, “provavelmente durante vários dias”.

As explosões, que ocorreram quase em simultâneo às 14h50 locais (19h50 em Lisboa), foram provocadas por “engenhos poderosos”, segundo a polícia. As explosões estão a ser consideradas o pior ataque à bomba em solo americano desde os sucedidos com aviões a 11 de Setembro de 2001.

À Reuters, uma fonte relacionada com a investigação que preferiu manter-se no anonimato explicou que os artefactos que explodiram eram compostos por pólvora e estavam cheios de rolamentos e estilhaços de metal. Esta combinação, sobretudo o concentrado de estilhaços, maximiza o efeito devastador da explosão.

Ao explodir o artefacto, que segundo a fonte da Reuters era rudimentar e de fabrico caseiro, os fragmentos saem disparados à altura das pernas, o que justifica o número de amputações a que muitas das vítimas tiveram de ser sujeitas nos hospitais de Boston.

Uma fonte oficial da Casa Branca citada pela Reuters disse também que o caso será tratado como um “acto de terrorismo”, mas sublinhou que é preciso apurar se o ataque veio do exterior ou se foi “doméstico”.

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu na segunda-feira que a polícia vai encontrar e punir os responsáveis.

Segundo a Associated Press, mais de mil agentes antiterrorismo foram mobilizados para apoiar a investigação, além de milhares de outros agentes-patrulha. O nível de alerta em Nova Iorque foi reforçado e locais muito movimentados como Times Square, o Rockefeller Center e a Catedral de St. Patrick na região central de Manhattan, o edifício das Nações Unidas e o World Trade Center estão a ser especialmente vigiados.

Outras grandes cidades americanas continuarão sob “alerta elevado”, e as polícias das regiões metropolitanas de Nova Iorque, Los Angeles, Las Vegas, Detroit e Atlanta indicaram que o risco de ameaça à segurança foi revisto para o nível máximo. Unidades de contraterrorismo foram enviadas para testar a segurança dos edifícios governamentais, recintos desportivos, aeroportos e outros entrepostos de transportes públicos e também das atracções turísticas do país.

Alerta na Europa
Do outro lado do Atlântico também soou o alarme. Em Londres, onde se vai realizar no domingo uma maratona – a segunda mais importante do mundo a seguir à de Nova Iorque – a polícia está em alerta e o dispositivo foi reforçado após o ataque de Boston.

Em Paris, o ministro do Interior, Manuel Valls, anunciou em comunicado que ordenou às forças de segurança um “reforço da presença de patrulhas” e apelou aos cidadãos que estejam vigilantes e denunciem qualquer acto suspeito, ou sacos abandonados em locais públicos, mas “sem ceder ao pânico”, escreve o jornal francês Le Monde.

A partir de Moscovo, o Presidente russo, Vladimir Putin, condenou o que classificou como "um crime bárbaro". Manifestou ainda disponibilidade para apoiar as investigações dos EUA.

Em Boston, nesta terça-feira, alguns feridos nas explosões continuam a lutar pela vida. Muitos foram amputados, sobretudo nas pernas. “Vemos muitos ferimentos causados por estilhaços”, descreveu Peter Fagenholz, cirurgião de traumas no Hospital Geral de Massachusetts, aos jornalistas, na segunda-feira. “Alguns doentes vão ter de repetir as operações amanhã [terça-feira] e nos próximos dias”, acrescentou.

Entre os três mortos está um menino de oito anos. Segundo aquele cirurgião, os casos mais graves – nove deles são crianças – chegaram ao hospital nos 15 minutos após as explosões.

Buscas aleatórias
A população de Boston foi avisada de que nos próximos dias estarão em vigor buscas aleatórias a carteiras, mochilas e malas, e também a pacotes e encomendas. “Ainda não podemos falar de normalidade. Sabemos que vai haver inconveniências, mas as medidas tomadas são para garantir a protecção e segurança da população”, explicou o governador.

“No regresso ao trabalho será notório o aumento do policiamento”, confirmou o mayor de Boston Thomas Menino, que pediu à população para não se alarmar com a presença de soldados na rua e para colaborar com as autoridades.

A cidade está a ser patrulhada por membros da Guarda Nacional, equipas de ramos especializados da polícia e um largo contingente de agentes – todas as folgas foram canceladas e os efectivos estão todos na rua.

As autoridades ordenaram a evacuação de um perímetro de mais de 1,5 quilómetros e três quarteirões em torno da zona da explosão. Os residentes não serão autorizados a regressar a casa enquanto decorrer a recolha de material forense no local e todos os trabalhadores em edifícios localizados nessa área foram avisados para permanecer em casa.

O trânsito foi fortemente restringido e muitas artérias foram encerradas. Alguns campus universitários no centro de Boston informaram os alunos de que as aulas seriam suspensas esta terça-feira, e vários estabelecimentos comerciais confirmaram que permaneceriam fechados.

A polícia revistou um apartamento em Revere, um subúrbio a nordeste de Boston, numa acção ligada à “investigação das explosões de segunda-feira”. Segundo a estação local WBZ-TV, a busca envolveu agentes do FBI, do departamento de Segurança Nacional e dos serviços de Alfândega e Imigração. Os agentes recolheram vários sacos de provas, mas recusaram fornecer qualquer informação à imprensa.

Uma outra estação local filiada na Fox News disse que a polícia deteve um indivíduo considerado “pessoa de interesse” para a investigação e que se encontrava na proximidade das instalações improvisadas pela polícia estadual junto ao local das explosões.
 
 

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