Polícia da Florida apanha funcionários de parques de diversão em operações contra predadores sexuais

Investigação da CNN revela que 35 trabalhadores do Walt Disney World da Florida foram detidos e acusados por posse de pornografia infantil e abusos sexuais de menores. Vítimas não eram frequentadores do parque de Orlando.

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Polícia deteve funcionários do Walt Disney World da Florida REUTERS/Scott Audette

As autoridades norte-americanas já detiveram 42 funcionários de parques de diversão temáticos da Florida como o Walt Disney World, SeaWorld e Universal Studios, alegadamente envolvidos em redes de pornografia infantil ou suspeitos de abusos sexuais de menores, revelou uma investigação da cadeia de notícias CNN.

Nenhuma das vítimas dos casos identificados pela reportagem, ocorridos entre 2006 e 2014, foram crianças ou adolescentes que frequentaram os parques de Orlando, onde a segurança nunca esteve comprometida. Mas segundo sublinharam os responsáveis policiais citados pela CNN, as detenções demonstram que nem mesmo o cumprimento dos mais rigorosos procedimentos para a verificação da idoneidade dos trabalhadores tem impedido que indivíduos descritos como “predadores sexuais” sejam contratados para trabalhar ao pé de menores.

Pelo menos 32 indivíduos, todos homens, detidos pela polícia dos condados de Lake, Polk e Osceola no âmbito de operações de vigilância com agentes encobertos, foram já julgados e condenados. Os restantes processos ainda correm em tribunal na Florida.

Allen Treaster, de 40 anos, declarou-se inocente em tribunal depois de ter caído na emboscada montada pelas autoridades, que se fizeram passar por um rapaz de 14 anos que respondia ao seu anúncio na internet para um encontro sexual. Mas num interrogatório conduzido pela polícia, e exibido na reportagem, o mesmo indivíduo admitia ter mantido relações sexuais com um jovem de 15 anos que conhecera online, três semanas antes da detenção.

Como outros, o seu trabalho envolvia o contacto diário com crianças e jovens: primeiro no popular pavilhão dedicado ao filme Toy Story no recinto da Disney World, e posteriormente como recepcionista num dos hotéis que integra aquele complexo em Orlando. Segundo a CNN, outros arguidos trabalhavam como seguranças, guias turísticos, animadores, empregados de balcão ou mecânicos.

De acordo com as acusações, alguns dos crimes ocorreram em instalações da Disney: foi durante o horário de trabalho que dois dos arguidos mantiveram diálogos online para atrair menores para encontros sexuais, ou descarregaram e enviaram imagens pornográficas. Um deles, já condenado a uma pena de seis anos de prisão, trabalhava num dos hotéis do resort e, fora do expediente, era pastor numa igreja local.

Em comunicado, a Disney assegurou que mantém uma vigilância constante sobre todo o equipamento informático, que compreende a monitorização de computadores onde, aliás, correm programas que impedem o acesso dos funcionários a determinados sites, nomeadamente de pornografia. A empresa também garantiu que segue critérios apertados na contratação de pessoal exigindo a apresentação do registo criminal e aferindo as referências apresentadas por todos os candidatos.

A porta-voz da Disney, Jacquee Wahler, acrescentou, ainda, que “os números reportados pela CNN representam um cem avos de 1% do total de 300 mil funcionários contratados durante esse período”, e que mantém uma colaboração estreita com as autoridades locais e federais, e com o Centro Nacional de crianças Desaparecidos e Exploradas no sentido de “fortalecer os seus esforços de providenciar um ambiente seguro para todos os clientes”.

O presidente daquele centro nacional, Ernie Allen, confirmou que “é difícil encontrar uma empresa que se preocupe mais e cumpra mais passos para garantir a segurança das crianças e combater os crimes contra menores do que a Disney”.

Representantes do SeaWorld e dos Universal Studios também disseram à CNN que o processo de contratação contempla a verificação do cadastro de cada candidato, e que situações como as que foram apresentadas na reportagem não têm lugar nas suas instalações. “Temos uma política de tolerância zero”, sublinhou o porta-voz dos estúdios de cinema Universal, enquanto o assessor do SeaWorld, Nick Gollattscheck, respondeu que “as acções apropriadas são tomadas sempre que necessário”.

O xerife do condado de Polk, Grady Judd, diz na reportagem que apesar de todos os esforços, os locais onde se concentram crianças serão sempre um ponto de atracção para “predadores sexuais”, e defende, entre outras medidas, a realização de testes com polígrafos para a contratação do pessoal que trabalha com menores – em parques de diversão mas também escolas, por exemplo.

A legislação norte-americana prevê as circunstâncias em que testes com os chamados detectores de mentiras podem ser realizados, em nome da protecção da privacidade e das liberdades civis. Na maior parte dos casos, é ilegal a realização deste tipo de exames por empresas privadas.

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