Polacos voltam a protestar contra eventuais novas restrições ao aborto

Líder PiS, Jaroslaw Kaczynski, anunciou que não desistiu de fazer passar uma lei que force as mulheres a levarem até ao fim “até as gravidezes difíceis”

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Milhares de mulheres desfilaram em várias cidades, vestidas de preto, empunhando guarda-chuvas pretos Reuters/AGENCJA GAZETA

Pela segunda vez neste mês, houve segunda-feira negra na Polónia. Milhares de polacos protestaram contra eventuais novas iniciativas destinadas a restringir o direito ao aborto. Milhares de mulheres desfilaram em várias cidades, vestidas de preto, empunhando guarda-chuvas pretos.

O assunto está na ordem do dia. A primeira chamada “greve das mulheres” ocorreu a 3 de Outubro. Mais de 100 mil saíram à rua contra uma iniciativa popular que pedia a proibição quase total do aborto, penas de prisão para as mulheres que abortaram e para a equipa médica que lhes prestar assistência. A proposta admitia uma única excepção: a de ameaça imediata da gravidez à vida da grávida.

O Governo, liderado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), admitiu a possibilidade de apresentar a sua proposta de lei, permitindo aborto em casos de incesto ou violação, assim como em risco para a saúde da mãe, excluindo no entanto os casos de fetos com deficiências. Perante os protestos, acabou por recuar.

Volvidos três dias, o líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, anunciou que não desistiu de fazer passar uma lei que force as mulheres a levarem até ao fim “até as gravidezes difíceis”, isto para que "possam ser baptizadas" mesmo “as crianças condenadas a não sobreviver depois do parto ou com malformações muito sérias”.

O medo de que o partido Lei e Justiça venha a promover uma lei mais restritiva tem suscitado novos protestos. Já no domingo, milhares de mulheres tinham protestado em Varsóvia.

 “Fomos capazes de ignorar uma lei absurda e, por isso, a tensão no país caiu, mas agora o poder pode aproveitar a oportunidade para passar uma nova lei, talvez menos absurda, mas também inaceitável”, declarou nesta segunda-feira à AFP a activista Aleksandra Sekula. “Nós não vamos concordar com isso”

A Polónia já tem uma das mais restritivas leis da União Europeia. Só permite a interrupção da gravidez em caso de risco para a vida ou para a saúde da mulher, doença grave e irreversível do feto, violação ou incesto.

Os manifestantes denunciam "a interferência da Igreja na política" e "violações dos direitos das mulheres" e "omissão do Estado neste domínio". "A Igreja interfere na política e na legislação do país", disse ao Bozena Przyluska AFP, um dos organizadores. “Chantageia os partidos políticos", acusa.

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