Phillipe herda o trono belga e uma crise política

Já em Maio haverá legislativas e pode repetir-se o cenário de há dois anos, quando o país esteve mais de ano e meio sem governo e o rei foi o mediador das negociações entre partidos.

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Os herdeiros, à esquerda, e os reis da Bélgica ERIC LALMAND/AFP

Além do trono, que o rei Alberto II lhe passará no dia 21 de Julho, Phillipe vai herdar uma crise política. Apesar de na Bélgica o monarca não ter poderes, cabe-lhe mediar as negociações para a constituição dos governos - a última ronda de conversas durou 541 dias.

"Estou bem consciente das responsabilidades que recaem sobre mim", disse Phillipe na primeira declaração que fez após o pai ter anunciado a abdicação, na terça-feira. Estava numa feira de ciência em Antuérpia, que é a sede de um dos pomos da discórdia eleitoral que se adivinha.

Em 2010, a Nova Aliança, o principal partido flamengo liderado pelo presidente da câmara de Antuérpia, Bart De Wever, foi o partido mais votado nas legislativas e obteve 28% dos votos. A legislação deste país com três grandes comunidades — flamenga (60% da população de 11 milhões), francófona e alemã — exige que todas elas estejam representadas no executivo. As negociações encalharam, durante mais de ano e meio a Bélgica não teve governo e a mediação do rei Alberto II foi considerada essencial para o impasse se desfazer a favor dos socialistas, que chefiam a equipa governativa.

O acordo foi conseguido à custa da Nova Aliança, que ficou de fora do governo e, por isso, não poupou críticas ao rei. Agora, o partido veio advertir não ter confiança no herdeiro; na verdade, veio dizer que é uma formação republicana e, por isso, defende o fim da monarquia, ainda que a respeite.

"Alberto II sentindo-se incapaz, por razões de saúde, de enfrentar uma nova grande crise política, assumiu as suas responsabilidades no interesse do país", dizia o jornal La Libre Belgique, qualificando o rei como "forte, corajoso e caloroso".

"A abdicação do rei Alberto II abre um período de incerteza política" e "relança o debate sobre a preparação do seu filho e o futuro da monarquia tal como existe hoje", considerava o diário Le Soir.

Se a Nova Aliança voltar a ser o partido mais votado no ano que vem (as eleições são a 24 de Maio), será preciso um rei forte para manter a coesão de um Estado que há muito ameaça partir-se em dois. Soube-se que o rei foi pressionado a não abdicar antes das eleições, mantendo-se como mediador e, mais importante, unificador dos belgas, sendo a zona flamenga a única economicamente estável e próspera das regiões belgas. "Era o que eu preferia, que ficasse", disse ao Le Soir o senador francófono, e liberal, Armand de Decker.

O príncipe não quis responder a perguntas dos jornalistas na quarta-feira; disse que falará no dia 21. O primeiro-ministro socialista, Elio di Rupo, fez a defesa de Phillipe, que tem 53 anos e cujo título oficial é duque de Brabante, na abertura da sessão parlamentar desta quinta-feira. Disse que o herdeiro está muito bem preparado e sabe o que o espera. "Abre-se uma nova dinâmica. O príncipe Phillipe está extremamente bem preparado para ser rei. Ao longo dos últimos anos ele encabeçou muitas missões económicas que defenderam os interesses da Bélgica no mundo. Será um rei dedicado ao país. Juntamente com a princesa Mathilde, a Bélgica terá um casal real que está próximo de todos os cidadãos", disse Di Rupo.
 
 
Notícia rectificada: onde se lia holandesa passou a ler-se alemã.

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