Philippe Martinez tornou-se o verdadeiro líder da oposição em França

Líder da CGT promete dar tudo por tudo para travar o Código do Trabalho.

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Há dois anos, Philippe Martinez não era sequer uma figura pública ALAIN JOCARD/AFP

Philippe Martinez é hoje o rosto da oposição ao Governo de Manuel Valls. O secretário-geral da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), que está em vias de perder o primeiro lugar entre as confederações sindicais em França, aposta tudo na radicalização da luta contra o Código do Trabalho, quando outros já desmobilizaram.

No fim-de-semana passado, Martinez deixou-se fotografar a lançar um pneu para uma fogueira – uma imagem inédita para um líder de uma central sindical, sublinha o jornal Le Figaro (de tendência centro-direita). “Se o Governo continuar a recusar-se a discutir, há o risco de a mobilização se ampliar”, ameaçou na quarta-feira na France Inter.

Quando era criança, e brincava aos índios e cowboys com os amigos, este filho de emigrantes espanhóis queria sempre ser o índio, recordou ao site Capital.fr Raynal Devalloir, um desses amigos de infância. Queria ficar do lado dos oprimidos.

Agora, o rumo que traçou é o de confronto com o Governo, com o qual rompeu todos os contactos, julgando que a única forma de travar o Código do Trabalho, ainda que seja remota, é fazer bloqueios a sectores chave da actividade económica. No caso desta quinta-feira, o sector eléctrico e dos combustíveis.

O Governo chegou a acordo com a Confederação Francesa Democrática do Trabalho, a central que está muito próxima com a CGT em termos de tamanho, e a quem a direcção de Martinez trata como “traidores”. Enfraquecida em bastiões históricos, a CGT, central com 121 anos em França, luta pela sobrevivência na sua implantação nas empresas.

Desde que foi eleito para a direcção do sindicato, em Fevereiro de 2015, Martinez, militante do Partido Comunista Francês até 2002, impôs um discurso radical. No entanto, não era conhecido por ser assim enquanto dirigia a federação CGT da metalurgia, entre 2008 e 2015 – então tinha fama de ser alguém com quem os patrões conseguiam negociar, diz o Le Figaro.

Mas este ex-técnico da Renault que até há dois anos não era uma figura pública virou fortemente à esquerda ao chegar ao topo na central sindical, num momento em que houve também um crescimento da extrema-esquerda na CGT – representa hoje entre um quarto a um terço da CGT, diz o Figaro, quando anteriormente não tinha mais de 10%.

“Martinez adopta uma atitude de confronto, se compararmos com os seus antecessores. Apoia-se bastante na temática da luta de classes para dar força às suas hostes e distinguir-se dos outros sindicatos”, explica Bernard Gauriau, especialista em direito do trabalho da Universidade de Angers, citado no site MetroNews.

Mas esta posição não é unânime no seio da CGT, que é hoje uma central sindical fragmentada, em que um terço dos sindicatos que a compõem não concordam com a linha seguida pelo secretário-geral, diz o Le Monde. Enfraquecida, a CGT não consegue conter as suas federações mais radicais, como a da indústria química, presente nas refinarias, diz uma fonte do Figaro.  A central está enfraquecida por cinco anos de lutas internas, com trocas de acusações e problemas de sucessão.

No entanto, quem conhece Martinez reconhece que ele é um grande estratega. A oposição forte ao Código do Trabalho tem de tudo de estratégia para tentar reafirmar a CGT. A central tem também de fazer esquecer que em 2012 recomendou o voto em François Hollande, hoje o Presidente da República que bate recordes de impopularidade, e que tenta impor uma nova legislação laboral em que toda a população encontra alguma coisa para detestar.

 

 

 

 

 

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