Pequenos rádios podem tornar-se numa arma contra o regime da Coreia do Norte

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Poucos norte-coreanos se podem dar ao luxo de possuir um aparelho de rádio, e menos ainda de ter a coragem de captar emissões estrangeiras Anatoly Maltsev/EPA

Pequenos transístores descartáveis poderão tornar-se na arma mais eficaz contra o regime norte-coreano. A ideia partiu de um activista de direitos humanos, que pretende assim combater um dos grandes pilares que assegura a permanência no poder do ditador Kim Jong-il: o controlo total da informação.

"Pequenos rádios descartáveis: ouve-se e deita-se fora. Quanto mais pequenos, melhor", afirmou ao jornal "The New York Times" o padre Douglas Shin, um americano de origem coreana. Foi deste activista que partiu a ideia de fazer entrar na Coreia do Norte, o regime mais isolado do mundo, milhares de pequenos aparelhos de rádio, com o tamanho de um maço de cigarros, mas capazes de apanhar ondas internacionais.

O controlo da informação tem sido uma constante nos 60 anos de "dinastia" Kim, e como tal, um dos alvos na luta contra o regime. Alguns exilados norte-coreanos contam que antes de abandonar o seu país pensavam que a Coreia do Norte, um dos Estados mais pobres do mundo, é mais rico do que a Coreia do Sul; e que as doações de arroz dos Estados Unidos são uma forma de tributo ao poderoso Governo comunista. Em Janeiro, a Radio Free Asia e a Voice of America duplicaram as horas de emissão em coreano para aquele país. No mês seguinte, ambas as estações já emitiam em onda-média, uma banda acessível com rádios AM baratos.

Mas poucos norte-coreanos se podem dar ao luxo de possuir um aparelho de rádio, e menos ainda de ter a coragem de captar emissões estrangeiras. À grande maioria dos 22 milhões de habitantes não é permitido nenhum contacto com o mundo exterior, nem sequer por carta, telefone, ou programas de televisão. Todos os cidadãos são obrigados a registar os seus rádios na polícia local, onde os aparelhos estrangeiros são sintonizados na estação pública, soldados e selados. As forças policiais fazem depois inspecções sem aviso prévio para garantir que não houve falcatruas.

"Muitas pessoas na Casa Branca acreditam que a Cortina de Ferro ruiu porque a rádio do Governo americano deu informações que criaram a Revolução de Veludo", afirmou um diplomata norte-americano em Seul, referindo-se à revolta checoslovaca contra o comunismo.

Grupos de direitos humanos acreditam que a luta contra a ditadura de Kim Jong-il pode ser feita através da informação. O contrabando de pequenos transístores pode ser a arma necessária.

À espera de um efeito poderoso

Os que defendem o contrabando de transístores para a Coreia do Norte, a maior parte grupos de direitos humanos e cristãos, afirmam que o objectivo é garantir que alguém há-de ouvir, mesmo que seja uma pequeníssima elite. Dizem que o efeito poderá ser poderoso.

"A população poderá sofrer uma espécie de colapso psicológico quando perceber o que lhe está a ser feito, e como vive o resto do mundo", prevê Radek Sikorski, da Radio Enterprise Institute, ao mesmo diário. "O controlo da informação é absolutamente crucial para a sobrevivência deste regime porque o sistema se baseia em mentiras".

"A população norte-coreana não ouve a verdade, por isso, teremos de ser nós a fazer esse papel e a dizer-lhes o que se está a passar", disse por sua vez Ahn Jane Hoon, que nasceu em Pyongyang e é responsável pela Radio Free Asia na Coreia desde 1997. Entre outras informações, esta estação dá conselhos úteis a quem quiser abandonar o país: como contactar grupos missionários no Norte da China, e como vestir e comportar para evitar ser detido e deportado.

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