"Pela primeira vez temos a sensação de que a última palavra é mesmo dos cidadãos"

Dos movimentos sociais para a política, Ada Colau, a candidata da coligação Barcelona En Comú, pode ser a primeira mulher à frente da capital catalã.

Foto
"Não me lembro de nenhumas eleições tão imprevisíveis" LLUIS GENE/AFP

Ada Colau nasceu em Barcelona, cresceu e estudou na cidade que agora pode vir a governar. Sem terminar Filosofia, envolveu-se no movimento antiglobalização. Em 2006, entrou no Movimento por uma casa digna em Espanha e em 2009 foi fundadora da Plataforma de Afectados pelas Hipotecas (PAH) de Barcelona, uma das primeiras do país.

Com a Iniciativa de Legislação Popular que a PAH levou ao Congresso depois de reunir 1,4 milhões de assinaturas para pedir a mudança da lei das hipotecas (que o Tribunal de Justiça da UE considera contrária ao direito europeu), tornou-se na porta-voz nacional de um movimento que mobilizou cidadãos para travar milhares de despejos, entre centenas de milhares – em Barcelona, continuam a ser 20 por dia.

Estar à frente da PAH e liderar uma candidatura política é muito diferente?
O processo colectivo de empoderamento tem a ver com algo muito mais amplo, que aconteceu com o 15M, com a PAH. Agora chegámos a um ano de eleições e é lógico que todos estes processos tenham uma expressão eleitoral. Não os substituem, isso seria um erro. Todos sabemos que em democracia é preciso uma cidadania organizada e activa antes, durante e depois das eleições. Mas, sim, agora é preciso travar esta luta para recuperar as instituições e, depois, continuar, dentro e fora das instituições.

Há um ano imaginava que estaria aqui, em campanha?
Não, aconteceu tudo muito depressa. Mas houve um processo colectivo tão forte, difícil de descrever, que tudo faz sentido. Todos os dias há tanta gente, peritos de todas as áreas, médicos, engenheiros, advogados, economistas, professores, que se aproxima da candidatura e diz: "Quero apoiar-vos, quero ver uma mudança na minha cidade." Tudo o que tem acontecido é tão bonito que nos convencemos rapidamente que estamos a fazer o que tem de ser feito e que realmente há uma oportunidade histórica que não podemos deixar de aproveitar.

Várias sondagens antecipam que será a candidata vencedora.
Não estou convencida que vamos a ser a formação mais votada, os outros partidos apostam muito na estratégia do medo, do caos, já nos estão a chamar venezuelanos, anti-sistema. Mas também sei que há muita gente desiludida e são estas pessoas que nós temos de mobilizar. Estas são as eleições mais abertas de que me lembro. Sou filha da Transição, tenho 41 anos, e não me lembro de nenhumas eleições tão imprevisíveis. Isso é emocionante, pela primeira vez temos a sensação de que a última palavra é mesmo dos cidadãos.

Se vencer, não terá maioria. O que é acontece depois de contados os votos?
Se realmente formos a lista mais votada, queremos governar, é para isso que as pessoas vão votar em nós. As regras actuais permitem que governes em minoria, mas não excluímos pactos. Vamos discutir com base nos programas. Já dissemos que não queremos privatizar serviços básicos, que temos um código ético para pôr em prática, que queremos acabar com privilégios. Vamos falar com todas as forças que queiram discutir nestes termos. Se governarmos em minoria, o nosso objectivo, a partir da câmara, também vai ser criar as ferramentas para que haja uma soberania total, permanente, dos cidadãos, mais do que a cada quatro anos. Temos de saber apostar em descentralizar a administração para os bairros e os distritos, para que seja realmente a cidadania que vá fazendo a agenda política e se responsabilize pela sua concretização. Acredito que essa também é a força do projecto.

Sugerir correcção
Comentar