Partido X – Partido do Futuro quer “Democracia e Ponto” em Espanha

“No futuro já ganhámos”, garantem os rostos do vídeo de apresentação do novo partido. Ainda não é certo que se apresente às próximas eleições.

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"No fundo é muito simples: Democracia e Ponto" DR

Começaram por querer “Democracia Real Já”. Agora, alguns querem “Democracia e Ponto”. É com esta frase que os membros de um novo partido espanhol que hoje foi apresentado na Internet, seguidores do 15-M e defensores de cultura e software livres, resumem o seu programa.

Chama-se Partido X – Partido do Futuro e não é o partido dos Indignados e do 15-M, o movimento de contestação que nasceu em Espanha com o acampamento de milhares nas Portas do Sol de Madrid, em Maio de 2011. É o partido que alguns activistas do movimento quiseram fazer, aliados a movimentos que defendem o software livre, e pode ser conhecido no site partidodelfuturo.net, lançado nesta terça-feira de manhã com alguns atrasos e pedidos de desculpa.

O Partido X – Partido do Futuro, “é um método ao serviço de todos que toma a forma de partido para levar a cabo a mudança”, explica-se na página de Facebook. É um partido em duas partes, “um dispositivo de trabalho, comunicação e acção, e um partido latente registado no Ministério do Interior”.

“O Partido X – o Partido do Futuro é o partido que já ganhou no futuro. O Partido X é uma incógnita. É o partido que ganha porque aplica o programa que permite instaurar uma verdadeira democracia com a qual as pessoas possam defender os seus interesses. O Partido X entra no Parlamento, abre as suas portas e devolve directamente o poder soberano através do cumprimento de todos os pontos do seu programa: a Democracia e Ponto”, anuncia-se no site.

No vídeo de apresentação há um homem e uma mulher que vão explicando o programa numa “conferência de imprensa a partir do futuro para anunciar o vosso passado”: os objectivos do partido são, enumeram, “ganhar tudo” – “referendos”, “direito a voto real e permanente”, “legislação elaborada diante de todos e com as colaborações dos que sabem de cada tema”… Para quê? “Para decidir e impedir que a terrível crise que estamos a viver não seja paga por vocês, por nós, mas pelos especuladores que a provocaram.”

“Se os políticos são o problema, nós seremos o grande problema dos políticos”, avisa-se. Sempre na lógica de contar o passado a partir do futuro, dizem-nos que entraram no Parlamento e os "despediram a todos". “Nem deputados nem senhorios. Empregados públicos ao serviço do bem comum”, é assim que os políticos deveriam ser.

Isto não é uma piada nem é o 15-M

A dada altura, os porta-vozes explicam não ser porta-vozes de nada. “Eu sou uma professora desempregada […] e, na realidade, o que pediam no anúncio eram actores e actrizes diferentes […]. Não creio que tenham problemas em encontrar, somos tantos no desemprego.”

“Por aí, no presente, estão a viver um grande movimento de mudança, chamaram-se 15-M. Tem razões, atitude, as propostas para mudar o rumo da sociedade, mas choca sempre com um tecto de vidro: o do poder”, diz um dos “porta-vozes. “O 15-M não quer ser um partido. Nem quer nem pode ser representado porque é muitas coisas diferentes”, afirmam.

Enquanto o 15-M “faz o seu trabalho era preciso alguém para desalojar os políticos do espaço eleitoral em que estavam entrincheirados”, e é aqui que entra o Partido X.

“No futuro”, “não se está nada mal”: “a elite política foi substituída”, “os banqueiros que roubaram foram presos”… “Isto não é uma piada. É uma promessa”, garantem. “A melhor maneira de garantir um bom futuro é criá-lo."

Formas de intervenção e propostas que já existem

A Internet é a ferramenta de trabalho natural de um partido que diz ser em grande parte “um dispositivo de comunicação e acção”.

A partir daí, a ideia é experimentar em Espanha formas de intervenção cidadã na gestão política como foi a redacção da Constituição islandesa ou os gabinetes digitais da capital da Islândia, Reiquejavique, ou Porto Alegre, em Rio Grande do Sul. No fundo, levar à prática muitas das propostas do 15-M, como a participação directa dos cidadãos na elaboração de leis e a transparência dos processos políticos.

As Iniciativas de Legislação Popular, como a proposta de uma nova lei das hipotecas que o movimento anti-despejos se preparara para conseguir ver discutida no Parlamento de Madrid (depois de reunir mais de 600 mil assinaturas) são outro método possível de intervenção.

Mais importante do que as pessoas – para já, não há porta-vozes nem líderes oficiais, como também o 15-M recusou ter – são as propostas, e o Partido X incorpora no seu programa as propostas sobre habitação da Plataforma de Afectados pelas Hipotecas ou a proposta de alternativa à privatização de hospitais e centros de saúde feita pelo Comité Profissional de Saúde de Madrid.

Se for a votos – não é ainda certo que o faça nas próximas eleições – acabar-se-á o anonimato e os impulsionadores da nova formação irão então dar-se conhecer.

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