Parlamento iraquiano antecipa para domingo nova sessão

Na véspera, deputados tinham adiado reunião para Agosto, arrastando paralisia em Bagdad por mais um mês.

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Maliki mantém a intenção de cumprir um terceiro mandato Reuters

O Parlamento iraquiano recuou e agendou a sua próxima sessão para domingo, um mês antes da data que tinha sido anunciada na véspera e que gerou críticas dentro e fora do país. Não há, contudo, sinais de que impasse na formação de um novo Governo tenha sido ultrapassado.

“Qualquer adiamento poria em causa a segurança do Iraque e o seu processo democrático, aumentando o sofrimento do povo”, anunciou o presidente interino do Parlamento, Mehdi al-Hafidh, sem adiantar mais explicações. Na véspera, o Parlamento tinha agendado a sessão para 12 de Agosto.

Só no dia 1 de Julho os deputados eleitos dois meses antes se reuniram pela primeira vez, mas o encontro terminou com trocas de insultos e sem que tivessem sequer sido apresentados os nomes propostos para os três principais cargos do país – desde a queda de Saddam ficou instituído que o líder do Parlamento seria sunita, o Presidente um curdo e o primeiro-ministro um xiita.

Os feudos e as rivalidades são uma constante da política iraquiana, mas no intervalo entre as eleições e a primeira sessão, os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) lançaram uma ofensiva que lhes permitiu apoderarem-se de Mossul (a segunda maior cidade do Iraque), Tikrit (a cidade natal de Saddam, 100 quilómetros a norte de Bagdad) e de quase toda a província sunita de Anbar (Oeste), incluindo postos na fronteira com a Síria. Um avanço conseguido graças a uma aliança de conveniência com rebeldes sunitas e antigos militares – há muito revoltados com as políticas sectárias do primeiro-ministro Nouri al-Maliki – e perante a deserção de unidades inteiras do Exército.

Desde a semana passada que os militares, com o apoio das milícias xiitas entretanto mobilizadas em seu auxílio, tentam recuperar Tikrit, mas apesar mesmo com a ajuda da aviação continuam a enfrentar resistência.

Nesta terça-feira, o general Qassim Atta garantiu à Reuters que a rebelião sunita estará prestes a revoltar-se contra o ISIS, que na semana passada decretou um califado no território que controla entre o Leste da Síria e o Oeste e Norte do Iraque. A mesma agência noticiou que, na semana passada, os jihadistas terão detido e levado para lugar desconhecido entre 25 a 60 antigos comandantes militares e dirigentes do regime de Saddam, numa aparente tentativa para eliminar todos os opositores à instauração de um estado idêntico ao que vigorou nos primórdios do islão e encabeçado pelo seu líder.

De Bagdad, para já a salvo da ofensiva do ISIS, continuam a chegar notícias de ataques de claro teor sectário. Domingo e segunda-feira, dois atentados em bairros de maioria xiita mataram nove pessoas. Ataques semelhantes nesta terça-feira fizeram mais oito mortos.

Várias vozes insistem que só a formação de um governo abrangente, reconhecido por sunitas, xiitas e curdos, poderá travar a ameaça de uma desintegração do Iraque. No entanto, e apesar de sinais de que o bloco xiita procura uma alternativa a Maliki, o primeiro-ministro reafirmou na semana passada a intenção de cumprir um terceiro mandato, recordando que a sua coligação foi a mais votada nas eleições de 30 de Abril. Sem um nome alternativo, sunitas e curdos rejeitam apresentar as suas propostas para os outros dois cargos, num impasse que a manter-se poderá precipitar o desmembramento do país.

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