Parlamento alemão dramatiza aprovação de programa grego

Deputados do partido da chanceler querem garantia de envolvimento do FMI mas recusam alívio da dívida.

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Merkel poderá sofrer um desafio à sua autoridade se muitos dos 311 deputados do seu partido votarem contra o plano para a Grécia Odd Andersen/AFP

O Parlamento alemão vai aprovar esta quarta-feira de manhã o novo programa de empréstimo à Grécia de cerca de 86 mil milhões de euros. A dúvida é com quantos votos contra do principal partido do Governo. Muitos deputados da União Democrata-Cristã (CDU) e do seu partido-gémeo da Baviera (CSU) estão a expressar reservas sobre uma condição que consideram essencial – o envolvimento do Fundo Monetário Internacional (FMI) no programa.

A chanceler, Angela Merkel, e o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, esforçaram-se por defender o acordo e garantir o envolvimento da instituição, numa série de entrevistas nos últimos dias. Mas o FMI disse que apenas decidirá em Outubro, quando for discutido o alívio da dívida, que considera essencial para entrar no empréstimo já que sem este alívio a economia grega não poderá recuperar, defende a instituição liderada por Christine Lagarde.

Merkel e Schäuble apresentaram a participação do FMI como garantida. Numa entrevista no fim-de-semana, a chanceler disse que Lagarde tinha posto duas condições, a reforma do sistema de pensões e um alívio da dívida. “Ela deixou muito claro que se estas condições forem cumpridas, irá recomendar a participação do FMI”, declarou. “Não tenho dúvidas de que o que ela disse se concretizará”.

Também em campanha pela aprovação do acordo esteve Wolfgang Schäuble, que antes tinha defendido uma saída temporária da Grécia do euro.  Numa entrevista ao jornal Bild – o tablóide mais crítico de um novo acordo com a Grécia, com manchetes questionando o que está a ser feito com o dinheiro dos contribuintes alemães –, Schäuble justificou a sua mudança de opinião pela atitude diferente do Governo grego. “Depois de negociações realmente difíceis, na Grécia eles percebem agora que o país não pode mesmo evitar reformas reais e profundas.”

A Alemanha também garantirá que as reformas “têm agora de ser concretizadas ponto por ponto”, disse Schäuble. “Vamos certificar-nos disso. Qualquer ajuda subsequente estará dependente disso.” A Grécia aprovou o plano na sexta-feira passada numa sessão parlamentar que durou a noite toda com o principal partido no poder, o Syriza, a dividir-se. Horas depois, o plano foi aprovado pelos ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo).

Numa outra entrevista, desta vez à estação de televisão ZDF, Schäuble disse: “posso argumentar com toda a convicção” a favor da aprovação do acordo “em parte porque eu próprio não tomei esta decisão de ânimo leve”.

Tanto Merkel como Schäuble argumentam que o programa de três anos permitirá – “se a Grécia fizer tudo o que foi acordado” – regressar a uma via de sustentabilidade, conseguindo financiamento nos mercados sem necessidade de garantias do fundo europeu de estabilidade.

No entanto, Schäuble disse que o espaço para discutir diminuição de taxas de juro ou aumentos de prazo para o pagamento de dívida grega era reduzido, enquanto Merkel mencionou apenas que há esta hipótese.

Entretanto, para além do FMI, também os credores europeus – o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o fundo de estabilidade – dizem que a dívida (neste momento é de 170% do PIB) é insustentável e tem de ser reduzida.

Muitos deputados do partido de Merkel são contra qualquer alívio da dívida (que Merkel e Schäuble sempre excluíram) e desconfiam de medidas para adiar ad aeternum os prazos de pagamento. Como a participação do FMI tem esta condição, é provável que muitos não acreditem que o fundo acabe por se envolver ou que consideram que, para isso, seja preciso uma redução da dívida a que se opõem.

O Bild dizia que até 120 deputados do partido de Merkel poderiam votar contra o plano para a Grécia, deixando a aprovação dependente dos votos do seu parceiro de coligação, o SPD (os Verdes, na oposição, também votarão a favor), o que seria um grande revés político para a chanceler – provavelmente, o mais grave nos seus dez anos à frente do Governo alemão. Mas mesmo que haja desafios à sua autoridade, Merkel tem sido o garante da popularidade dos democratas-cristãos e a sua arma eleitoral – e com os rumores de que concorrerá a um quarto mandato a ganharem força, qualquer rebeldia no seu partido deverá ser posta em perspectiva.

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