Para uma Europa com futuro, a imigração "é uma necessidade" e não um fardo

Foto
Um novo ciclo de políticas económicas e sociais abrir-se-á em 2010 Andres Stapff/Reuters

Só o presidente do Grupo de Reflexão sobre o Futuro da União Europeia, Felipe González, ouviu palmas enquanto ainda falava na conferência de lançamento do Ano Europeu Contra a Pobreza e a Exclusão Social, que ontem decorreu em Madrid: "A imigração é uma necessidade de médio e longo prazo, embora provoque emoções a curto prazo."

José Luis Zapatero, presidente do Governo de Espanha, que este semestre preside à UE, puxara o tema. Para lutar contra a pobreza e a exclusão social "é obrigatório os países democráticos e avançados garantirem saúde e educação a todas as pessoas que vivem dentro das suas fronteiras, independentemente da sua condição legal", dissera, minutos antes de González discursar.

Por quase toda a Europa se ouve protestar contra o fluxo migratório. O momento é crítico. Com a crise, oito milhões de empregos desapareceram do espaço comunitário. Zapatero está convencido de que as consequências seriam bem mais severas se não fosse o esforço extra da União e dos Estados-membros. A UE baseia-se num "modelo reconhecido", com "instituições fortes", com "instrumentos preciosos" que amorteceram a queda.

Foi sobre a sustentabilidade desse modelo social que González reflectiu ontem. O continente envelhece a olhos vistos. Daqui a 20 anos teremos menos 30 milhões de activos. "O problema não é a população que temos. O problema é: com a população que temos, como criar uma economia sustentável?" No seu entender, com um "mix de políticas demográficas."

O antigo líder socialista julga que a UE tem de contar com os imigrantes, mas também com as mulheres no mercado de trabalho e no combate ao "declive demográfico". "As empresas não contratam jovens mulheres por acharem que vão engravidar. Contratem-nas, sobretudo, se engravidarem."

Um novo ciclo de políticas económicas e sociais abrir-se-á em 2010. O Ano Europeu contra a Pobreza é também o ano da Estratégia 2020, que substituirá a Estratégia de Lisboa, que vigora há dez anos e que ficou aquém do objectivo traçado - erradicar a pobreza. O documento já esteve em discussão pública e deverá ser votado na Cimeira da Primavera.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, explicou as linhas mestras nessa nova era. A Estratégia 2020 "perseguirá um objectivo claro: promover uma economia de mercado social mais verde, mais competitiva e mais inclusiva. Uma das principais metas será a criação de emprego. Temos de evitar por todos os meios uma recuperação sem emprego."

Ainda na véspera, num jantar informal com jornalistas, o comissário Europeu do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Igualdade de Oportunidades, Vladimir Spidla, confessara: "Se me perguntarem se a crise já terminou, terei de responder que não - claramente. Do ponto de vista económico, já há sinais de recuperação. Do ponto de vista social, não."

"Os nossos esforços concentrar-se-ão no desemprego juvenil e no desemprego de larga duração - temos de evitar que um fenómeno de carácter cíclico se converta em estrutural", adiantou Barroso. "Contudo, a "Europa 2020" não poderá circunscrever-se às medidas mais tradicionais. Se o emprego é de um modo geral a melhor salvaguarda contra a pobreza e a exclusão social, para oito por cento dos europeus trabalhar não é suficiente para sair da pobreza. É inadmissível. O trabalho tem de ser uma via para sair da pobreza. Chegou a altura de encontrar um novo consenso político sobre isto".

Sugerir correcção
Comentar