Para renovar a Igreja Católica é preciso regressar aos seus “princípios fundacionais”

Recém-nomeado secretário de Estado do Vaticano não fecha a discussão sobre questões como o celibato.

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Parolin assume oficialmente funções a partir de 15 de Outubro Kham/Reuters

O novo chefe do Governo do Vaticano, Pietro Parolin, considera que para renovar a Igreja Católica é necessário regressar aos seus “princípios fundacionais”, mas sem esquecer que se trata de uma instituição com dois mil anos de história. O Papa Francisco pode dar sinais de revolução na Igreja Católica, mas Parolin sublinha que o objectivo do seu Pontificado não é mudar tudo. “A Igreja tem uma Constituição, uma estrutura, conteúdos que são os da fé e que ninguém pode mudar”.

Naquela que é a sua primeira grande entrevista desde que no passado dia 31 foi anunciado sucessor do cardeal Tarcisio Bertone – só entra em funções a 15 de Outubro –, Parolin, de 58 anos, fala abertamente de algumas das questões mais sensíveis para Igreja.

Ao jornal venezuelano El Universal, o novo secretário de Estado do Vaticano confessa que ainda não sabe que critérios seguiu o Papa para o nomear para o cargo, mas acredita que terá considerado que seria, “mais ou menos, a pessoa com capacidade para o ajudar na obra de renovação que quer fazer na Igreja Católica”. Conhecido por defender ideias reformadoras na Igreja, Parolin não quer afirmar que terá sido por isso que vai ser o “número 2” do Vaticano. “Posso dizer que sinto muita afinidade com a sua maneira [do Papa] de entender a Igreja e sobretudo com o seu estilo simples e de proximidade com as pessoas”, confessa.

O Papa Francisco tem assumido posições consideradas revolucionárias numa Igreja Católica acusada de resistir à mudança. Parolin assume que a “Igreja é um organismo completo e que no seu interior há resistência”, mas sublinha que as mudanças “não podem pôr em perigo a essência da Igreja”. "A Igreja nunca poderá mudar-se ao ponto de adaptar-se completamente ao mundo. Se o fizer, vai perder-se nele e não cumprirá a sua missão de ser sal e luz para todos”.

O El Universal questionou o secretário de Estado sobre se isso significava que planear as reformas da Igreja implicaria “um regresso ao cristianismo primitivo” e Parolin respondeu afirmativamente. Mas “não se trata apenas de regressar ao passado”, continuou, mas de “voltar aos princípios fundacionais da Igreja”.

O chefe de Governo do Vaticano diz que apesar das posições revolucionárias que o Papa possa ter, não é esperado que “revolucione tudo”. “Espera-se que ajude a Igreja a ser a Igreja de Jesus e que cumpra a sua função”.

Celibato aberto a discussão
Parolin afirma na mesma entrevista que há “dogmas definidos e intocáveis” na Igreja e que dificilmente serão alvo de mudanças. Questionado sobre se o celibato é um deles, responde que não “é um dogma da Igreja” e que “pode ser discutido porque é uma tradição eclesiástica”. “Não se pode dizer, simplesmente, que pertence ao passado. É um grande desafio para o Papa porque ele tem o ministério de unidade e todas essas decisões devem ser assumidas como uma forma de unir a Igreja, e não dividi-la. Então pode falar-se, reflectir e aprofundar sobre estas questões que não são de fé definida e pensar em algumas modificações, mas sempre ao serviço da unidade e tudo segundo a vontade de Deus. Não é o que eu quero mas o ser fiel ao que Deus quer para a sua Igreja”.

Segundo Parolin, na hora de tomar decisões é preciso ter presentes os critérios de Deus, bem como “abertura aos sinais dos tempos”. Sobre o facto de o Papa ter afirmado "Se uma pessoa é gay e procura o Senhor, quem sou eu para a criticar?", quando regressava a Roma após a sua visita ao Brasil em Julho, o secretário de Estado explica que Francisco quis “dizer que a doutrina da Igreja é muito clara sobre este ponto moral”. "Jesus aceita-nos tal como somos", mas “também nos pede para crescermos e que nos adequemos à imagem que tem de nós”. “A conduta de cada um julga-a apenas Deus e é isso que o Papa quis dizer”, continuou.

Parolin reforça que sempre afirmou que a Igreja “não é nenhuma democracia”. “Mas é bom, nestes tempos, que haja um espírito mais democrático no sentido de escutar atentamente e creio que o Papa o indicou como um objectivo do seu pontificado”.
 

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