Alemanha envia 650 soldados para o Mali e pondera combate ao EI

Merkel afasta-se do não intervencionismo dos últimos anos e admite que pode ir ainda mais longe na solidariedade com Paris.

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Líderes da França e da Alemanha discutiram possibilidade de envolvimento de Berlim na guerra na Síria e no Iraque REUTERS
Paris tem cerca de três mil soldados no Mali
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Paris tem cerca de três mil soldados no Mali Dominique Faget/AFP

A Alemanha vai enviar 650 soldados para o Mali, num gesto que visa aliviar o envolvimento militar da França na região do Sahel, permitindo-lhe desviar recursos para as operações contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. E o governo de Angela Merkel não exclui levar mais longe a sua resposta ao pedido de auxílio feito por Paris aos parceiros europeus, distanciando-se da política de não intervenção seguida até aqui.

“Quando o Presidente francês me pede para pensar sobre o que mais podemos fazer, é nosso dever reflectir sobre isso e vamos responder muito depressa", disse esta quarta-feira à noite em Paris a chanceler alemã, numa declaração conjunta com o Presidente francês, François Hollande, protagonista esta semana de uma ofensiva diplomática para tentar uma frente unida internacional contra o Estado Islâmico.

Momentos antes, Hollande tinha manifestado "o desejo de que a Alemanha" se junte à coligação internacional que, sob liderança dos EUA, bombardeia os jihadistas na Síria e no Iraque desde o Verão de 2014. Uma participação que, segundo o jornal alemão Bild, poderia passar pelo envolvimento nas operações dos caças alemães Tornado ECR, versão de reconhecimento dos caças europeus, cujos radares e câmaras poderão ser importantes na identificação de centros de treino e comando que os jihadistas camuflaram dentro das cidades que controlam. “Se os franceses os pedirem não lhos podemos negar”, disseram ao jornal fontes dos dois partidos da coligação liderada por Merkel.

“Os alemães são pessoas muito pragmáticas e um dia vão passar da teoria à prática”, disse o primeiro-ministro francês, quando questionado sobre a entrada da Alemanha na coligação militar, um passo que ainda há meses era impensável para Merkel. Ainda em Berlim, a chanceler disse apenas que o seu governo “não vai excluir automaticamente nenhum compromisso adicional, se ele se revelar necessário”.

No imediato, Merkel vai pedir autorização ao Parlamento para enviar 650 militares para apoiar a missão de paz das Nações Unidas no Mali (Minusma), uma força maioritariamente africana que tem por mandato a estabilização do Norte do Mali, onde o Exército francês interveio em Janeiro de 2013 para rechaçar uma coligação de extremistas islâmicos e rebeldes tuaregues que se tinham apoderado da região e ameaçavam avançar sobre a capital do país, Bamaco. Os soldados alemães vão actuar sobretudo nas áreas “da logística e reconhecimento”, explicou a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen.

A decisão de Berlim – na sequência da cláusula de assistência mútua europeia (42.7 do Tratado de Lisboa) que foi invocada por Paris após os atentados de dia 13 – é tanto mais importante quanto nos últimos anos o Governo alemão fez questão de se distanciar das intervenções militares conduzidas pelos seus parceiros europeus, da intervenção franco-britânica na Líbia às operações francesas em África.

A Alemanha contribui já com 200 militares para a missão europeia de treino de soldados malianos, mas estes estão destacados no Sul do país, uma região mais poupada à violência mas não a salvo dos extremistas, como provou o ataque da semana passada contra um hotel da capital, Bamaco, que provocou 27 mortos. Ainda antes dos atentados de Paris, o Governo alemão admitiu reforçar a sua participação nas operações no Norte do Mali – onde a França mantém mais de três mil soldados numa operação autónoma, mas que actua em conjunto com a Minusma –, mas só agora esse compromisso toma forma.

Com estes 650 reforços alemães, o envolvimento dos franceses nesta parte do mundo não precisará de ser tão forte”, sublinhou Von der Leyen, confirmando também que vai enviar mais 50 formadores para o Iraque, onde tem já cem militares envolvidos no treino das forças autónomas do Curdistão. Berlim estará também a ponderar manter por mais tempo do que o inicialmente previsto os soldados que mantém no Afeganistão, numa missão conjunta com os EUA e que é centrada no treino das forças locais.

A resposta pronta da Alemanha contrasta com as reticências do Governo espanhol, que recusa comprometer-se com o envio de forças para África Ocidental antes das legislativas de Dezembro. O ministro da Defesa francês, Jean Yves-Le Drian, disse estar à esperar de uma proposta de Madrid depois de o chefe da diplomacia espanhola, José García Margallo, ter dito que Madrid poderia assumir parte dos esforços que estão a ser desenvolvidos pelos militares gauleses no Mali e na República Centro-Africana. Em plena campanha eleitoral, a sugestão foi criticada pelo líder socialista, Pedro Sánchez, o que levou o executivo de Mariano Rajoy a assegurar que a questão não está actualmente a ser discutida. “Compreendemos que Rajoy queira esperar pelas legislativas, mas sem dúvida que estamos abertos a qualquer ajuda que nos permita aliviar as nossas operações no estrangeiro”, respondeu Valls.

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