Papandreou lançou novo partido que pode baralhar eleições gregas

Movimento para a Mudança, do ex-primeiro-ministro socialista, deverá roubar votos ao Pasok, mas também a outros partidos, contribuindo para tornar mais incerto o desfecho das legislativas de 25 de Janeiro.

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“O partido de Papandreou é uma grande interrogação”, disse Costas Panagopoulos, da empresa de sondagens Alco, Thierry Roge/Reuters

Era o segredo mais mal guardado da política grega, como esta sexta-feira se confirmou. O antigo primeiro-ministro socialista George Papandreou lançou uma nova força partidária, cortando os laços com o Movimento Socialista Pan-helénico, Pasok.

A decisão de criar o novo Movimento para a Mudança foi anunciada pelo próprio Papandreou, esta sexta-feira, na sua página no Facebook, confirmando os indícios que se vinham acumulando nas últimas semanas. “É tempo para o próximo grande passo das forças progressistas do país”, escreveu. “É tempo para construir, em conjunto, uma nova casa política que acolha os valores progressistas, os valores que nos unem.”

Se nas eleições do próximo dia 25 tudo correr de feição ao novo partido de Papandreou – numa sondagem da semana passada a sua ainda hipotética formação política recolhia 4 a 5% das intenções de voto – o antigo chefe do Governo, e líder do Pasok, não recuperará o protagonismo de outros tempos, mas poderá ter uma palavra a dizer na política de alianças após as legislativas, antecipadas devido à dissolução, esta semana, do Parlamento. Ou mais do que isso: ajudar a fazer pender a vitória no escrutínio para o lado do favorito Syriza (Coligação da Esquerda Radical) ou da Nova Democracia, do primeiro-ministro conservador, Antonis Samaras.

“O partido de Papandreou é uma grande interrogação”, disse Costas Panagopoulos, da empresa de sondagens Alco, citado pela Reuters, ainda antes do anúncio. Uma formação política criada pelo antigo chefe do Governo poderia roubar votos ao Pasok, ao Syriza e mesmo à Nova Democracia, afirmou. O Financial Times considera que pode também disputar eleitorado ao To Potami, força de esquerda moderada, pró-europeia, criada no ano passado, e tida como possível parceiro de um Governo Syriza.

O Syriza tem surgido à frente nas sondagens, mas a sua vantagem sobre a Nova Democracia foi diminuindo e era de cerca de 3%, segundo as últimas sondagens: 28,3% contra 25%, numa; 27,2% contra 24,7%, noutra. O que mostra, num cenário de altíssima improbabilidade de obtenção de maiorias absolutas, que os pequenos partidos podem não só ter um papel relevante de "fazedores de reis", viabilizando um governo após as eleições, como poderão influenciar o resultado final do escrutínio, pelos votos que desviem de um ou outro dos dois principais partidos. Entre essas pequenas forças pode surgir o partido de Papandreou.

Analistas da política grega consideram que o antigo primeiro-ministro tem um peso próprio que vale votos, mas não deixam de chamar a atenção para um facto que pode jogar contra ele na hora da decisão. É sua a assinatura no primeiro acordo da Grécia com os credores, em 2010, seis meses depois de chegar ao Governo – o primeiro passo do progressivo agravamento das condições de vida dos gregos.

Ainda que tivesse apresentado o pedido de resgate como uma inevitabilidade que atribuiu à “herança” recebida, esse dado biográfico do político que saiu da liderança do Pasok, em 2011 – depois de ter sugerido que o país fizesse um referendo sobre a permanência no euro, o que desagradou às lideranças da União Europeia – parecia tornar improvável um maior protagonismo político no curto prazo.

Distanciamento

George Papandreou, 64 anos, neto e filho de chefes de Governo, foi, nos últimos tempos, dando progressivos sinais de distanciamento da orientação do partido fundado pelo pai, Andreas, em 1974, actualmente liderado por Evangelos Venizelos, vice-primeiro-ministro do Governo de coligação liderado pelo conservador Antonis Samaras.

Remetido durante algum tempo ao lugar de discreto deputado, mostrou recentemente vontade de um envolvimento mais activo. Em Novembro viu o Pasok rejeitar uma proposta para um congresso extraordinário e para a abertura de um processo de eleição de nova liderança. Manifestou também desacordo face à intenção de Venizelos de adoptar uma nova designação para o partido socialista grego, que é hoje uma sombra do que já foi.

Vencedor das legislativas de 2009 com 43,92%, o Pasok caiu para 13,18% em 2012. Nas europeias de 2014 foi o quarto mais votado, atrás do partido neonazi Aurora Dourada. As mais recentes sondagens atribuem-lhe intenções de voto entre os 3% e os 5%. Venizelos entende que o partido foi transformado no “bode expiatório” da crise e apelou à união interna. Num encontro realizado antes do Natal, pediu a Papandreou para não deixar o Pasok, considerando ser sua “obrigação moral” permanecer nas suas fileiras – segundo o relato da agência noticiosa Macedonia, com sede em Atenas. Não foi ouvido, como agora se confirmou.

A criação de um novo partido é apenas um dos dados que reforçam a incerteza na volátil paisagem política grega, onde as movimentações se sucedem. O diário Ekathimerini dava esta sexta-feira conta do aparente fracasso nos contactos entre o Syriza e o Dimar, de esquerda democrática, actualmente com nove deputados – mas que segundo as sondagens está em dificuldades para se manter no Parlamento – depois de o líder da coligação de esquerda, Alexis Tsipras, ter rejeitado as condições apresentadas para uma plataforma política comum.

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