Papa diz que Trump "não pode ser cristão"

A bordo do avião papal, Francisco abre a porta à contracepção como forma de evitar a propagação do vírus de Zika.

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Francisco durante a conferência de imprensa a bordo do avião papal ALESSANDRO DI MEO/AFP

O Papa imiscuiu-se esta quinta-feira nas eleições presidenciais dos Estados Unidos ao sugerir que um dos candidatos, o republicano Donald Trump, "não é cristão" devido à promessa que fez em campanha de deportar todos os imigrantes ilegais mexicanos e de obrigar o México a pagar um muro ao longo da fronteira entre os dois paises.

"Uma pessoa que só pensa em construir muros, sejam eles onde forem, e não em construir pontes, não pode ser cristã", disse Francisco, que respondia a uma pergunta directa de um jornalista a bordo do avião papal. Terminada a visita de cinco dias ao México, o Papa deu uma conferência de imprensa a bordo do avião que o levou de volta ao Vaticano, como é já seu hábito fazer.

Não quis dizer se os americanos devem ou não votar em Trump, que lidera a corrida republciana pela nomeação. "Só posso dizer que este homem não é cristão se diz coisas como essas. Mas temos que ver se ele quis dizer mesmo isso e tenho que lhe dar o benefício da dúvida", disse Francisco.

Donald Trump, que se assume como anglicano, já reagiu, dizendo que se considera um bom cristão e rejeitando os comentários "vergonhosos" do Papa sobre a sua pessoa. "Ele diz que eu não sou boa pessoa porque o governo mexicano o convenceu de que eu não sou boa pessoa", disse o candidato republciano.

"É uma tristeza que um líder religioso questione a fé de uma pessoa. Tenho orgulho em ser cristão", disse Trump num comício na Carolina do Sul. "Nenhum líder, especialmente um religioso, devia questionar a religião ou a fé de outro homem".

Foi também perguntado ao Papa se apoia um regime de excepção sobre o aborto (que a Igreja Católica proíbe) e o controlo da natalidade nas regiões afectadas pela epidemia do víris de Zika, que afecta sobretudo países católicos da América Latina.

O Papa separou o aborto do controlo da natalidade e rejeitou a interrupção voluntária da gravidez, que descreveu como "um crime, um mal absoluto". Mas foi mais permissivo quanto ao controlo da natalidade e citou Paulo VI que, em 1960, autorizou que as freiras belgas no Congo usassem contraceptivos pois corriam riscos de violação.

"Evitar a gravidez não é um mal absoluto - disse Francisco - e, em certos casos, como este, e no que eu referi do abençoado Paulo VI, foi [uma solução] clara. Também incito os médicos a fazer tudo o que podem para encontrar vacinas contra os males que estes mosquitos transportam".

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