Papa lamenta “silêncio cúmplice” de quem assiste a massacre de cristãos

Declaração feita após a Via Sacra acontece apenas um dia depois do ataque da milícia islamista Al-Shabab, que matou pelo menos 147 pessoas no Quénia.

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Papa Francisco depois da Via Sacra FILIPPO MONTEFORTE/AFP

Papa denunciou o “silêncio cúmplice” perante a “fúria jihadista” que atinge os cristãos e que mais uma vez andou à solta no Quénia. A posição de Francisco foi transmitida na sexta-feira santa, durante a Via Sacra, que neste ano teve um especial simbolismo com fiéis de vários países onde não há liberdade religiosa a transportarem a cruz.

O choque por causa da tragédia no campus universitário de Garissa, no Nordeste do Quénia. tomou precedência sobre os outros temas que costumam ser evocados na Páscoa. No Coliseu de Roma, no final do percurso da Via Sacra e perante milhares de pessoas, o Papa Francisco denunciou o “silêncio cúmplice” dos que assistem com indiferença ao massacre de cristãos que, por causa da fé, são “perseguidos, decapitados e crucificados”. 

“Na crueldade da tua paixão, Senhor, vemos a crueldade dos nossos corações e das nossas acções. No teu sentimento de abandono, vemos todos os abandonados pelos familiares, pela sociedade, dos que estão privados de atenção e da solidariedade”, disse, citado pela agência Ecclesia.

O discurso do Papa sobre a perseguição aos cristãos aconteceu apenas um dia depois do ataque da milícia islamista Al-Shabab, o grupo armado com ligações à Al-Qaeda e com base na Somália (a 150 quilómetros de Garissa) atacou as instalações da universidade durante a madrugada.

“Todos os responsáveis devem redobrar os seus esforços para pôr termo a esta violência”, afirmou o líder dos 1200 milhões de católicos. Antes de executarem as suas vítimas, a milícia islamista Al-Shabab, que matou pelo menos 147 pessoas separar os muçulmanos dos não muçulmanos, e manteve os primeiros apenas como reféns. 

No Vaticano, cresce a irritação por não serem denunciada de forma clara a perseguição crescente aos cristãos em vários países por vários grupos terroristas — no Iraque, no Quénia, na Líbia, no Paquistão ou na Nigéria. A tomada de Mossul pelo Estado Islâmico, em Junho de 2014, foi um momento de viragem: a Santa Sé passou a mostrar-se mais decisiva e empenhada em termos diplomáticos para exigir uma condenação deste acto pelas altas autoridades muçulmanas e também pelos políticos ocidentais. 

Francisco lamentou também a “negligência e indiferença” com que a sociedade vive nos dias de hoje e que leva a que muitos homens e mulheres fiquem “abandonados ao longo da estrada” – apelando a que as “palavras” passam a “vida e obras”.

O apelo foi feito no final da Via Sacra, que comemora e assinala as últimas etapas da vida de Cristo. Na evocação da prisão, julgamento e condenação à morte de Jesus rezou-se pelo “direito fundamental à liberdade religiosa” lembrando-se várias situações como “o tráfico de seres humanos, a condição das crianças-soldado, o trabalho que se torna escravidão, as crianças e os adolescentes despojados de si mesmos, feridos na sua intimidade, barbaramente profanados”

“Vemos em Ti [Jesus] os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados devido à fé em Ti, mesmo diante dos nossos olhos e frequentemente com o nosso silêncio cúmplice”, acrescentou Francisco, citado pela Reuters.

Já antes, na Basílica de São Pedro, o Papa tinha presenciado o discurso do pregador do Papa, o padre Raniero Cantalamessa, que também tinha feito referência à indiferença da comunidade internacional perante a perseguição de cristãos que acontece nos dias de hoje. Cantalamessa referiu-se em concreto à decapitação de 21 imigrantes egípcios cristãos na Lìbia, divulgada em Fevereiro pelo Estado Islâmico.

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