Papa pede ao Irão que se esforce para promover a paz no Médio Oriente

Presidente Hassan Rouhani esteve reunido a sós com o Papa no Vaticano, e pediu-lhe que rezasse por ele.

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O Vaticano descreveu o encontro entre o Papa Francisco e o Presidente iraniano Hassan Rouhani como "muito cordial" REUTERS/Andrew Medichini/Pool

O Papa Francisco recebeu esta terça-feira no Vaticano o Presidente do Irão, Hassan Rouhani, a quem pediu empenho para “desempenhar o importante papel” que lhe cabe na promoção da paz no Médio Oriente e no combate ao extremismo e terrorismo.

O encontro a sós entre Francisco e Rouhani, que decorreu à porta fechada e durou 40 minutos, foi descrito em comunicado como “muito cordial”. Na conversa “foram abordados valores espirituais comuns”, e também questões mais terrenas, nomeadamente o recente acordo nuclear entre o Irão e a comunidade internacional, que levou a república islâmica a desmantelar reactores e centrifugadoras e a desfazer-se de toneladas de plutónio, em troca do fim das sanções internacionais.

O histórico acordo, que retirou o Irão do isolamento internacional em que se encontrava por causa do desenvolvimento em segredo do seu programa nuclear, foi descrito pelo Papa como “um dos principais feitos” de 2015 e que, juntamento com o compromisso mundial para o combate às alterações climáticas, assinado em Paris, “mais esperança dava num futuro melhor”.

Os dois líderes fizeram votos para o aprofundamento das relações entre o Vaticano e o Irão – e deste com o resto do mundo. Assinalando o interesse – e o trabalho – do Papa Francisco na mediação e resolução de conflitos, nomeadamente para a normalização das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, o Vaticano destacou o papel importante que o Irão pode desempenhar no palco internacional, como potencial interlocutor em conversações de paz e na busca de “soluções políticas” para conflitos regionais.

O Papa tem-se referido frequentemente à guerra da Síria, com apelos constantes à intervenção da comunidade internacional. A partir de sexta-feira, uma nova tentativa de negociação arranca em Genebra: Rouhani, um dos mais importantes aliados do Presidente sírio Bashar al-Assad disse que o Irão estava disponível para ajudar a encontrar uma “solução” que permita pôr fim ao conflito.

De acordo com o resumo do encontro feito pelo Vaticano, esse foi o desejo manifesto por Francisco: “A minha maior esperança é na paz”. Pelo seu lado, o líder da república islâmica pediu ao Papa que rezasse por ele. À saída, disse aos jornalistas que reunir com o chefe da Igreja Católica tinha sido “um grande prazer” – para alguns analistas ocidentais, a visita cumpria um objectivo mais simbólico do que prático, servindo para confirmar a imagem de moderação de Rouhani.

O Presidente do Irão termina esta quarta-feira a sua visita de Estado a Itália. Rouhani segue depois para França, num pequeno périplo europeu que mostra o desejo do país de se restabelecer como um parceiro de referência a nível internacional, e de reintegrar o clube das economias emergentes. “O Irão é o país mais seguro e o mais estável de toda a região”, sublinhou, numa conferência com empresários italianos em Roma.

Para a curta visita de Hassan Rouhani ao Vaticano foram tomadas medidas de segurança extremas, com a praça de São Pedro a ser parcialmente vedada e os turistas impedidos de se aproximar da basílica até à retirada da comitiva oficial.

Além da segurança, as autoridades italianas também garantiram que o Presidente iraniano não era sujeito a embaraços, retirando as bebidas alcoólicas das refeições oficiais e tapando todas as estátuas de nus do museu Capitolini, onde decorreu o encontro de Rouhani com o primeiro-ministro Matteo Renzi – retribuindo a “gentileza”, Rouhani estendeu um convite para que o líder italiano visitasse Teerão “nos próximos meses”, para consolidar as relações bilaterais políticas e económicas. Na segunda-feira, a Itália e o Irão assinaram contratos no valor de 17 mil milhões de euros.

“O meu país está preparado para dar as boas vindas ao investimento e à tecnologia e também para criar um novo mercado para as exportações”, sublinhou o Presidente do Irão. “Quando falamos em combater o extremismo e o terrorismo no mundo, a via que temos de seguir é promover o crescimento e o emprego. A falta de crescimento alimenta as forças do terrorismo. O desemprego cria soldados para o terrorismo”, acrescentou.

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