Papa Francisco: "A misericórdia de Deus não tem limites" e chega aos ateus

Numa carta enviada ao jornal La Repubblica, Francisco afirma que é a consciência de cada um que molda os seus comportamentos. Quem praticar "o bem", mesmo não tendo fé, beneficia da "misericórida sem limites" de Deus.

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Francisco enviou uma carta ao jornal italiano La Repubblica Tony Gentile/Reuters

O Papa Francisco enviou uma carta ao jornal italiano La Repubblica, onde defende que os ateus serão "perdoados" se praticarem "o bem". Em última análise, escreve, "a questão para quem não acredita em Deus é a obediência à sua própria consciência".

A carta, publicada na primeira página do jornal italiano, surgiu em resposta ao co-fundador e antigo director do La Repubblica Eugenio Scalfai, ateu assumido e autor de duas cartas abertas dirigidas ao Papa.

Na última carta, Eugenio Scalfari perguntara a Francisco se "Deus perdoa quem não acredita e quem não procura a fé".

A resposta do Papa surgiu no seu habitual tom conciliatório e de relativo corte com o passado recente no Vaticano. "Dado que – e esta é a questão fundamental – a misericórdia de Deus não tem limites se Ele for abordado com um coração sincero e arrependido, a questão para quem não acredita em Deus é a obediência à sua própria consciência", escreve o Papa.

"Há pecado, também para os que não têm fé, quando se vai contra a própria consciência. Ouvi-la e respeitá-la significa tomar uma decisão sobre o que cada um entende como o bem e como o mal. E esta decisão é fundamental para determinar o bem e o mal nas nossas acções."

Numa outra passagem da carta, o Papa refere-se à noção de relativismo, muitas vezes contestada pelo seu antecessor. Para Bento XVI, a incapacidade das sociedades modernas de reconhecerem qualquer "verdade absoluta" – como Deus, na sua opinião – é um dos males dos tempos actuais. Mas para Francisco não há verdades absolutas sem a existência de uma relação: "A verdade, segundo a fé cristã, é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Por isso, a verdade é uma relação."

O Papa termina a carta com uma declaração sobre o objectivo principal da Igreja Católica, com referências aos "erros e pecados" cometidos: "Apesar da lentidão, da infidelidade, dos erros e dos pecados que [a Igreja] cometeu e poderá ainda vir a cometer contra os seus membros, a Igreja, acredite em mim, não tem qualquer outro sentido e objectivo que não seja viver e testemunhar Jesus."

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